Já faz algum tempo que eu venho ensaiando escrever sobre este tema pesado e recorrente. O gatilho foi um artigo veiculado na BBC Brasil, no último sábado, sobre um jornalista argentino que iniciou o noticiário em Rosário trazendo sua história pessoal da infância, marcada pelo abuso sexual patrocinado por seu pai sobre sua irmã caçula, e o de seu tio sobre ele e o irmão.
A trama não para aí: segundo ele, sua mãe também foi vítima deste companheiro violento e abusivo, de todas as formas possíveis, ao mesmo tempo que cúmplice – ela sabia do que acontecia quando eram pequenos – ele mesmo, aos 12 anos, escancarara a situação, mas ela não tomou nenhuma atitude na época.
Quarta-feira, dia de feira, com seus aromas especiais, misturados aos sons de carrinhos e abre-fecha de sacolas quase inaudíveis, sufocados por falas engraçadas de feirantes estridentes e clientes reclamando dos preços: “o tomate está pela hora da morte!”.
E a tentação do pastel, então! – mas li o artigo de meu amigo e lembrei que preciso ser forte, não cair em tentação; mais ainda, colocaria a perder o propósito da ida à feira, verdadeiro pretexto para ampliar a caminhada, numa luta insana contra a balança que não dá trégua e a favor da saúde, que também tem se manifestado a respeito nos últimos tempos.
Quando vasculhamos um pouco os anais de nossa história, surgem evidências de uma época bem diferente, em que mulheres eram tidas e respeitadas como deusas, sendo reverenciadas pelos homens.
A principal razão residia no fato de que elas eram tidas como únicas responsáveis pela reprodução da espécie, num tempo em que ainda não havia a noção da participação do sêmen neste fenômeno, como bem nos relata Regina Navarro Lins, na introdução de seu livro A cama na varanda.
Pensando sobre o conhecido aforismo freudiano: “Afinal, o que quer uma mulher?”, nada melhor do que tentar descrever seu papel social, à época de Freud e hoje, para então arriscar decifrar o enigma, se é que podemos falar de forma genérica sobre o tema, sem tomar a mulher uma a uma.
Freud viveu num período da história, entre os séculos XIX e XX, influenciado pelo iluminismo, onde os ideais de liberdade, igualdade, fraternidade, ainda que postos, seguiam carregados de fortes influências de um patriarcado trabalhoso de ser diluído e que, de certa forma, ainda persiste nos dias de hoje.
Ser humano e bem resolvido consigo mesmo não é para amadores. Afinal, vivemos num eterno conflito entre desejo e realidade, tendo que fazer escolhas o tempo todo, sem nenhuma garantia de que é a melhor dentre tantas outras. Aliás, muitas vezes adiamos este momento de decisão, até o limite, iludidos de que podemos simplesmente não fazer nada a respeito, como se a não escolha também não fosse uma escolha!
Pois é, e não basta escolher por escolher, pois isso também não nos satisfaz e, com o agravante de vir a gerar sofrimentos, os quais, boa parte das vezes, sequer associamos a alguma escolha tomada de maneira irrefletida ou inconsequente.
É certo que o Carnaval, há muito tempo, satisfaz um desejo humano de explorar o mundo de fantasias que nos define. Para muitos, representa um anseio por liberdade, enquanto para outros, é uma incrível chance de relaxamento, um prelúdio para a retomada ou início de projetos novos ou renovados, que esperam o término dessas celebrações iniciadas em dezembro para serem implementados, especialmente aqui, do lado de cá do equador.
Para todos, sem dúvida, seu final marca um período de luto, o fim da festa, um retorno à realidade. Para alguns, é hora de enfrentar a realidade, para outros, um recomeço, aceitando o limite imposto pelo calendário nacional e preparando-se para agir.
Faz algum tempo que incorporamos o hábito de nos comunicarmos rapidamente via WhatsApp, em substituição ao não tão velho, mas já conhecido e-mail. Tanto que alguns jovens sequer consideram a possibilidade de usar este recurso, exceto quando estritamente necessário.
Se é certo que essa forma atual e rápida de comunicação, mais informal, traz uma série de vantagens pela rapidez e fluidez, também pode complicar um pouco as relações interpessoais. Isso ocorre tanto por seu aspecto um tanto invasivo, chegando a qualquer momento e a um palmo da mão, em horários por vezes inadequados, quanto, justamente, pelo excesso de informalidade, não sem consequências. É algo sobre o qual gostaria de discorrer um pouco mais neste artigo de hoje.
Tenho observado a expressiva recorrência de exemplos sobre o que seria um comportamento típico de um narcisista. Parece que o termo ganhou certa relevância nas mídias sociais.
Como de médicos, loucos e narcisistas, cada um de nós tem um pouco, proponho aqui um exercício sobre a noção de narcisismo em Freud, sem a pretensão de aprofundar o conceito, mas resgatando aquilo que seria interessante para esta reflexão.
Em recente live, cujo tema central era a difícil arte de fazer escolhas e o risco de adoecer decorrente da incapacidade de elaborar as não escolhas às quais somos submetidos em nossa caminhada pela vida, uma intervenção chamou a atenção. O comentário – relato de uma mãe angustiada, sentindo-se culpada pelas reações de timidez excessiva do filho caçula, de apenas oito anos, que se sentiu rejeitado por uma amiga na escola. Na sequência do evento, o garoto foi encaminhado ao consultório e lá diagnosticado pelo terapeuta como portador da Síndrome da Frustração.
Não estaríamos patologizando demais os comportamentos, buscando enquadramentos, como se o sujeito precisasse caber na Cama de Procusto, quando o problema não é exatamente o sujeito e sim a cama? Acho que vale a pena refletirmos a respeito.
O texto apresenta uma reflexão sobre a escalada da violência e a perda de capacidade de diálogo, especialmente entre os jovens, usando como exemplo um episódio de agressão física em uma universidade renomada.
A autora questiona as causas que levam adolescentes a abandonar a comunicação saudável em favor de comportamentos regressivos e impulsivos, como o acting out. Além disso, aborda o papel das instituições educacionais na gestão desses conflitos, criticando a dependência de autoridades formais, como a polícia, em detrimento de intervenções mais pedagógicas e construtivas.