O tema do abuso de menores é algo muito sensível em nossa sociedade. A nova campanha nacional contra o abuso infantil no Brasil revela uma média de 4 casos por hora e a volta nada triunfal do tri-70: 70% meninas menores de 13 anos, 70% dentro de casa, 70% praticado por familiares, acima de 40%, pelo padrasto.
Buscar coibir, através da denúncia, parece fundamental para tentar erradicar uma prática abjeta, para a qual muitos fecham os olhos, numa provável tentativa de idealização da família perfeita, pois lidar com algo do tipo, além de ferir os padrões morais, requer, na maioria das vezes, medidas para as quais os demais adultos implicados não se sentem prontos: e aí, negar as evidências pode ser mais suportável, para a infelicidade destas crianças.
No entanto, em relação ao disque-denúncia, algo me preocupa: como é o preparo de quem irá avaliar uma situação suspeita e separar o joio do trigo? Não faltam casos em que a maledicência está no olhar daquele que enxerga maldades nos atos pueris do outro. Basta ver exemplos disso nas telas, como no filme “A Caça” ou em cenas da vida real, aqui relembrando o abraço de um pai e seu filho, interpretado como ato imoral por homofóbicos, gerando violência insana, ou mesmo o caso da Escola Base, em São Paulo, que destruiu a vida dos donos daquela instituição.
Outra questão não menos apreensiva reside na capacidade de professores, ao colocarem em discussão este tema na sala de aula, saberem manejar adequadamente o material obtido a partir dos relatos, sem resvalar em consequências até mais nocivas. Porque, sem dúvida, muitas falas podem ser pertinentes; ainda assim, antes do discurso acusatório, tais confissões merecem uma abordagem mais propositiva junto aos cuidadores, para que se entenda o que de fato ocorre dentro dos lares destas famílias envolvidas.
Para tanto, é importante identificar se há um “desejo” do cuidador em não querer ver o que se passa em seu lar, ou se há um descuido dele em não ser mais zeloso, tendo permanecido desatento à possibilidade do abuso; é fundamental buscar o diálogo com os responsáveis, respeitando as muletas emocionais, com habilidade para não ampliar o sofrimento – que passa a ser enorme com este tipo de revelação.
Para além da hipótese de o desabafo ser real, há situações em que crianças podem interpretar atitudes de adultos de forma equivocada, misturando realidade e fantasia ao mencionar o fato a alguém despreparado para tal. Com isso, corre-se o risco de o portador da notícia enxergar maldade onde ela não existe. Este é o caso do enredo do filme “A Caça” citado anteriormente: “a partir de fragmentos do discurso de irmão adolescente e amigos, excitados após assistirem a um filme pornô, uma garotinha, impactada pela cena, demonstra carinho, dando um selinho e deixando um desenho de coração no bolso do homem responsável por serviços gerais na escola e que, por ser seu vizinho, costuma ir e voltar com ela para casa. Ao ser repreendida e se sentir rejeitada por ele, entristece, comportamento observado pela professora que, após alguns desdobramentos, acaba interpretando a situação como um possível caso de assédio sexual – como este funcionário está separado, a certeza de que cometeu uma atrocidade se estabelece e ele passa a ser execrado pela comunidade.”
E, aprofundando aqui em mais uma possibilidade, já evidenciada na clínica: numa espécie de verdadeira ‘caça às bruxas’, em sendo as meninas as mais impactadas pelo assédio, surge a hipótese de se demonizar meninos menores de 18 anos quando, em cenários de convívio fraterno, são expostos a situações de excesso de intimidade junto a irmãs ou primas também menores, porém igualmente adolescentes. Há que se ter cuidado na amplitude das leituras feitas diante de atitudes que mais revelam (em ambos os gêneros, importante citar) a curiosidade natural dos pertencentes à tal faixa etária – tal qual ocorre na fase fálica, quando meninas e meninos se comparam para distinguir seus órgãos genitais.
Em seus lares, lugar de segurança e de excesso de confiança, pode acontecer de meninos incorrerem em erro ao extrapolar sua curiosidade, por conta da imaturidade psíquica frente à pulsão sexual que vibra em todo ser humano, acrescido da impulsividade que os caracteriza – jovens ainda não são totalmente conscientes de seus atos, e transitam pelo delicado e desconhecido trajeto do adolescer, muitas vezes sem qualquer direcionamento, apoio ou esclarecimento por parte de seus cuidadores. Quando acusados de importunação por exposição de sua virilidade junto às meninas de seu convívio – cena/situação que não deve ser ignorada – cabe aos responsáveis a capacidade de lidar, de forma disciplinadora e educativa, mais esclarecedora e menos punitiva.
Jovens adolescentes, não importa o gênero, seguem despertando para a vida sexual e a curiosidade vem de ambos os lados. Seria interessante, aos adultos, conter o ímpeto de incluir os atores do adolescer num espetáculo de terror por excesso de senso pudico.
Abuso ocorre quando um incapaz é submetido a um algoz mais velho e impositivo, numa relação desigual de poder, é sempre bom recordar!
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.
O tema do abuso de menores é algo muito sensível em nossa sociedade. A nova campanha nacional contra o abuso infantil no Brasil revela uma média de 4 casos por hora e a volta nada triunfal do tri-70: 70% meninas menores de 13 anos, 70% dentro de casa, 70% praticado por familiares, acima de 40%, pelo padrasto.
Buscar coibir, através da denúncia, parece fundamental para tentar erradicar uma prática abjeta, para a qual muitos fecham os olhos, numa provável tentativa de idealização da família perfeita, pois lidar com algo do tipo, além de ferir os padrões morais, requer, na maioria das vezes, medidas para as quais os demais adultos implicados não se sentem prontos: e aí, negar as evidências pode ser mais suportável, para a infelicidade destas crianças.
No entanto, em relação ao disque-denúncia, algo me preocupa: como é o preparo de quem irá avaliar uma situação suspeita e separar o joio do trigo? Não faltam casos em que a maledicência está no olhar daquele que enxerga maldades nos atos pueris do outro. Basta ver exemplos disso nas telas, como no filme “A Caça” ou em cenas da vida real, aqui relembrando o abraço de um pai e seu filho, interpretado como ato imoral por homofóbicos, gerando violência insana, ou mesmo o caso da Escola Base, em São Paulo, que destruiu a vida dos donos daquela instituição.
Outra questão não menos apreensiva reside na capacidade de professores, ao colocarem em discussão este tema na sala de aula, saberem manejar adequadamente o material obtido a partir dos relatos, sem resvalar em consequências até mais nocivas. Porque, sem dúvida, muitas falas podem ser pertinentes; ainda assim, antes do discurso acusatório, tais confissões merecem uma abordagem mais propositiva junto aos cuidadores, para que se entenda o que de fato ocorre dentro dos lares destas famílias envolvidas.
Para tanto, é importante identificar se há um “desejo” do cuidador em não querer ver o que se passa em seu lar, ou se há um descuido dele em não ser mais zeloso, tendo permanecido desatento à possibilidade do abuso; é fundamental buscar o diálogo com os responsáveis, respeitando as muletas emocionais, com habilidade para não ampliar o sofrimento – que passa a ser enorme com este tipo de revelação.
Para além da hipótese de o desabafo ser real, há situações em que crianças podem interpretar atitudes de adultos de forma equivocada, misturando realidade e fantasia ao mencionar o fato a alguém despreparado para tal. Com isso, corre-se o risco de o portador da notícia enxergar maldade onde ela não existe. Este é o caso do enredo do filme “A Caça” citado anteriormente: “a partir de fragmentos do discurso de irmão adolescente e amigos, excitados após assistirem a um filme pornô, uma garotinha, impactada pela cena, demonstra carinho, dando um selinho e deixando um desenho de coração no bolso do homem responsável por serviços gerais na escola e que, por ser seu vizinho, costuma ir e voltar com ela para casa. Ao ser repreendida e se sentir rejeitada por ele, entristece, comportamento observado pela professora que, após alguns desdobramentos, acaba interpretando a situação como um possível caso de assédio sexual – como este funcionário está separado, a certeza de que cometeu uma atrocidade se estabelece e ele passa a ser execrado pela comunidade.”
E, aprofundando aqui em mais uma possibilidade, já evidenciada na clínica: numa espécie de verdadeira ‘caça às bruxas’, em sendo as meninas as mais impactadas pelo assédio, surge a hipótese de se demonizar meninos menores de 18 anos quando, em cenários de convívio fraterno, são expostos a situações de excesso de intimidade junto a irmãs ou primas também menores, porém igualmente adolescentes. Há que se ter cuidado na amplitude das leituras feitas diante de atitudes que mais revelam (em ambos os gêneros, importante citar) a curiosidade natural dos pertencentes à tal faixa etária – tal qual ocorre na fase fálica, quando meninas e meninos se comparam para distinguir seus órgãos genitais.
Em seus lares, lugar de segurança e de excesso de confiança, pode acontecer de meninos incorrerem em erro ao extrapolar sua curiosidade, por conta da imaturidade psíquica frente à pulsão sexual que vibra em todo ser humano, acrescido da impulsividade que os caracteriza – jovens ainda não são totalmente conscientes de seus atos, e transitam pelo delicado e desconhecido trajeto do adolescer, muitas vezes sem qualquer direcionamento, apoio ou esclarecimento por parte de seus cuidadores. Quando acusados de importunação por exposição de sua virilidade junto às meninas de seu convívio – cena/situação que não deve ser ignorada – cabe aos responsáveis a capacidade de lidar, de forma disciplinadora e educativa, mais esclarecedora e menos punitiva.
Jovens adolescentes, não importa o gênero, seguem despertando para a vida sexual e a curiosidade vem de ambos os lados. Seria interessante, aos adultos, conter o ímpeto de incluir os atores do adolescer num espetáculo de terror por excesso de senso pudico.
Abuso ocorre quando um incapaz é submetido a um algoz mais velho e impositivo, numa relação desigual de poder, é sempre bom recordar!
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.