Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Limpeza nas redes sociais protege contra dissonância e desinformação

Reduzir estímulos nas redes sociais e fortalecer o diálogo são essenciais para proteger crianças e adolescentes das dissonâncias morais e sociais.Reduzir estímulos nas redes sociais e fortalecer o diálogo são essenciais para proteger crianças e adolescentes das dissonâncias morais e sociais.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">Nos últimos tempos, todos os dias</span> faço limpezas nas minhas redes sociais. Minha capacidade de tolerância, que é bem elástica, nunca foi tão demandada. Pretendo permanecer serena e com capacidade de análise, logo, as providências para reduzir os estímulos recebidos são vitais.

Sinto-me navegando em um oceano de dissonâncias. Dissonância cognitiva, especialmente, evidenciada pelas distorções entre discurso, pensamento e ação de líderes, nos quais a honestidade da pregação convive com as mentiras, os roubos e as extorsões da prática. Práticas essas naturalizadas pela frequência. Algo que um dia significou ameaça à honra, hoje, pela frequência, é visto como "normal" pelos cidadãos anestesiados.

Muitas ações, mais apropriadamente chamadas de "golpes", um dia foram apresentadas como perda iminente da credibilidade e do respeito das pessoas. Hoje, são praticadas à luz do dia, afiançadas por "cidadãos de bem", filmadas e multiplicadas ad aeternum nos sofisticados mecanismos da web.

Não é um fenômeno da modernidade. Zeus, o todo-poderoso, utilizava os serviços de Hermes para as manipulações e ações obtusas no controle de humanos, deuses e semideuses. Esses dois personagens da mitologia grega ilustram com eficiência e significados interessantes o cenário atual — com o acréscimo veloz da vestimenta tecnológica. Contudo, o roteiro é muito parecido. Não por acaso, os pesquisadores do comportamento humano utilizam os personagens das mitologias e suas histórias para apoiar a compreensão da espécie dominante da Terra: o Homo sapiens. Nós!

A dissonância moral, outro fenômeno bastante presente em atos, notas e postagens, aparece quando a pessoa age de modo muito diferente do próprio quadro de referência, especialmente quanto aos códigos internos de ética e moral. O desconforto é significativo; sob pressões da comunidade ou de influências externas, a pessoa se verga, encolhendo ou descartando seus próprios valores para caber nas exigências externas. Algumas pessoas conseguem se livrar dessa opressão, mas preciso considerar que, para tanto, é necessário ou ter uma base consistente, ou ter acesso a informações que fortaleçam o pensamento crítico e uma boa rede de apoio. Porque o preço de sair é muito alto.

Uma confusão de valores, códigos de ética e moral, parâmetros de respeito mútuo e consciência coletiva gera uma onda de influência que chega às crianças e aos adolescentes.

Eles assistem à dinâmica de convivência dos adultos e coletam, ainda sem recursos para o manejo, atitudes, comunicação, padrões de relacionamentos assustadoramente tóxicos.

Captam informações que ressaltam racismo, discriminação, violência justificada, golpes, espertezas, algumas vezes fantasiadas de brincadeiras à beira de um campo de futebol ou de uma churrasqueira. Ou, o que me faz arrepiar a alma, à mesa do almoço dominical.

Outro grupo de adultos foge das conversas com temas complexos, negando os riscos ou as possibilidades espinhosas, lidando com a missão nobre de orientar uma criança ou um adolescente sem abrir a possibilidade de examinar o real com responsabilidade. São crianças abrigadas em corpos adultos. Na busca intensa de sustentação da juventude eterna, suas estruturas psíquicas atrofiam em comportamentos eternamente infantis.

É natural que esses adultos perdidos não terão tempo ou repertório para dialogar com os filhos e com as crianças, diálogos que poderiam construir um arcabouço de regras inegociáveis, fundamentais para a convivência entre humanos.

São essas crianças e adolescentes, desorientados, que nas escolas e ambientes de convivência cometem ou são acometidos pelo bullying. Essa violência absurda, hoje acelerada pela rapidez das redes, também não é nova. Remonta a tempos imemoriais. Entretanto, não é muito antiga a defesa da integridade física e psíquica das crianças e adolescentes. Até há pouco tempo, os pequenos eram desconsiderados como personalidades em formação e ficavam à mercê dos comportamentos abrasivos dos adultos. Muitas dessas crianças são vítimas de toda sorte de violência, legitimada, muitas vezes, nos púlpitos das igrejas. Muitos desses adultos perdidos estão nessa categoria.

A violência praticada por uma criança ou por adolescente tem raiz. Salvadas as situações patológicas, que são uma minoria, tal violência foi gestada na convivência com comunidades violentas.

É urgente começar ou ampliar o diálogo (diálogo!) entre nós, adultos, e entre as crianças. Quanto mais oportunidades pudermos gerar para que se vejam, se escutem e se conheçam, maiores serão as chances de ampliarmos a rede de proteção e cuidado com o humano em desenvolvimento.

Nessa agenda, é fundamental preservar o respeito e a dignidade da criança e do adolescente, das duas pontas dessa violência. O problema não são as pessoas, são os comportamentos. É preciso escapar, como de uma praga egípcia, da tentação de atribuir rótulos (valentão, fracote, corajoso, covarde...). O diálogo precisa abordar, equilibradamente, o inegociável nos relacionamentos; fazê-lo com calma e com capacidade de escuta aumenta a chance de conscientização.

Grande parte das crianças que são violentas está sob pressão de angústias, violências, impasses, dúvidas, ansiedade, depressão, e a violência é a válvula de escape que substitui a atenção e o diálogo. É como uma erupção vulcânica. Explode para aliviar a pressão. E o fará em direção aos mais frágeis, pois terá exemplos registrados no seu repertório. A cultura de gritos e xingamentos entre irmãos, pais e mães, vizinhos, políticos vai se avolumando como recurso no cérebro em desenvolvimento.

Acolher a criança vítima e acolher a criança violenta. À primeira, compreensão, solidariedade e a criação conjunta de estratégias de fortalecimento da autoestima e da autoconfiança. À segunda, compreensão e expansão conjunta das habilidades sociais. As duas intervenções devem ser pautadas em diálogo e oportunidades de prática. Nada de púlpito ou discursos.

Muitas vezes, crianças ou adolescentes com potencial para o exercício de liderança, caso não orientados adequadamente, liderarão grupos violentos. Redirecionar essa capacidade, apoiar o desenvolvimento funcional dessa liderança pode neutralizar o reconhecimento obtido pela violência, através do reconhecimento das ações construtivas.

Finalmente, mas o mais importante: praticar, ensinar e cultivar a sintonização empática. A empatia, da qual temos estrutura, será funcional quando deliberadamente praticada. Se cada um de nós, adultos, assumirmos a missão de trazer para o centro da nossa prática valores cognitivos e morais e, com a coerência obtida, nos conectarmos empaticamente com as crianças e os adolescentes, poderemos iniciar uma pequena tsunami do bem.

Sinto-me um tanto repetitiva quando escrevo isso, mas lá vai: cuide bem de si mesmo enquanto isso. Compaixão pela criança interna pode ser um belo início de missão!

Última atualização
3/9/2024 0:19
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira. 

Opinião

Limpeza nas redes sociais protege contra dissonância e desinformação

Reduzir estímulos nas redes sociais e fortalecer o diálogo são essenciais para proteger crianças e adolescentes das dissonâncias morais e sociais.Reduzir estímulos nas redes sociais e fortalecer o diálogo são essenciais para proteger crianças e adolescentes das dissonâncias morais e sociais.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
3/9/2024 0:19
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">Nos últimos tempos, todos os dias</span> faço limpezas nas minhas redes sociais. Minha capacidade de tolerância, que é bem elástica, nunca foi tão demandada. Pretendo permanecer serena e com capacidade de análise, logo, as providências para reduzir os estímulos recebidos são vitais.

Sinto-me navegando em um oceano de dissonâncias. Dissonância cognitiva, especialmente, evidenciada pelas distorções entre discurso, pensamento e ação de líderes, nos quais a honestidade da pregação convive com as mentiras, os roubos e as extorsões da prática. Práticas essas naturalizadas pela frequência. Algo que um dia significou ameaça à honra, hoje, pela frequência, é visto como "normal" pelos cidadãos anestesiados.

Muitas ações, mais apropriadamente chamadas de "golpes", um dia foram apresentadas como perda iminente da credibilidade e do respeito das pessoas. Hoje, são praticadas à luz do dia, afiançadas por "cidadãos de bem", filmadas e multiplicadas ad aeternum nos sofisticados mecanismos da web.

Não é um fenômeno da modernidade. Zeus, o todo-poderoso, utilizava os serviços de Hermes para as manipulações e ações obtusas no controle de humanos, deuses e semideuses. Esses dois personagens da mitologia grega ilustram com eficiência e significados interessantes o cenário atual — com o acréscimo veloz da vestimenta tecnológica. Contudo, o roteiro é muito parecido. Não por acaso, os pesquisadores do comportamento humano utilizam os personagens das mitologias e suas histórias para apoiar a compreensão da espécie dominante da Terra: o Homo sapiens. Nós!

A dissonância moral, outro fenômeno bastante presente em atos, notas e postagens, aparece quando a pessoa age de modo muito diferente do próprio quadro de referência, especialmente quanto aos códigos internos de ética e moral. O desconforto é significativo; sob pressões da comunidade ou de influências externas, a pessoa se verga, encolhendo ou descartando seus próprios valores para caber nas exigências externas. Algumas pessoas conseguem se livrar dessa opressão, mas preciso considerar que, para tanto, é necessário ou ter uma base consistente, ou ter acesso a informações que fortaleçam o pensamento crítico e uma boa rede de apoio. Porque o preço de sair é muito alto.

Uma confusão de valores, códigos de ética e moral, parâmetros de respeito mútuo e consciência coletiva gera uma onda de influência que chega às crianças e aos adolescentes.

Eles assistem à dinâmica de convivência dos adultos e coletam, ainda sem recursos para o manejo, atitudes, comunicação, padrões de relacionamentos assustadoramente tóxicos.

Captam informações que ressaltam racismo, discriminação, violência justificada, golpes, espertezas, algumas vezes fantasiadas de brincadeiras à beira de um campo de futebol ou de uma churrasqueira. Ou, o que me faz arrepiar a alma, à mesa do almoço dominical.

Outro grupo de adultos foge das conversas com temas complexos, negando os riscos ou as possibilidades espinhosas, lidando com a missão nobre de orientar uma criança ou um adolescente sem abrir a possibilidade de examinar o real com responsabilidade. São crianças abrigadas em corpos adultos. Na busca intensa de sustentação da juventude eterna, suas estruturas psíquicas atrofiam em comportamentos eternamente infantis.

É natural que esses adultos perdidos não terão tempo ou repertório para dialogar com os filhos e com as crianças, diálogos que poderiam construir um arcabouço de regras inegociáveis, fundamentais para a convivência entre humanos.

São essas crianças e adolescentes, desorientados, que nas escolas e ambientes de convivência cometem ou são acometidos pelo bullying. Essa violência absurda, hoje acelerada pela rapidez das redes, também não é nova. Remonta a tempos imemoriais. Entretanto, não é muito antiga a defesa da integridade física e psíquica das crianças e adolescentes. Até há pouco tempo, os pequenos eram desconsiderados como personalidades em formação e ficavam à mercê dos comportamentos abrasivos dos adultos. Muitas dessas crianças são vítimas de toda sorte de violência, legitimada, muitas vezes, nos púlpitos das igrejas. Muitos desses adultos perdidos estão nessa categoria.

A violência praticada por uma criança ou por adolescente tem raiz. Salvadas as situações patológicas, que são uma minoria, tal violência foi gestada na convivência com comunidades violentas.

É urgente começar ou ampliar o diálogo (diálogo!) entre nós, adultos, e entre as crianças. Quanto mais oportunidades pudermos gerar para que se vejam, se escutem e se conheçam, maiores serão as chances de ampliarmos a rede de proteção e cuidado com o humano em desenvolvimento.

Nessa agenda, é fundamental preservar o respeito e a dignidade da criança e do adolescente, das duas pontas dessa violência. O problema não são as pessoas, são os comportamentos. É preciso escapar, como de uma praga egípcia, da tentação de atribuir rótulos (valentão, fracote, corajoso, covarde...). O diálogo precisa abordar, equilibradamente, o inegociável nos relacionamentos; fazê-lo com calma e com capacidade de escuta aumenta a chance de conscientização.

Grande parte das crianças que são violentas está sob pressão de angústias, violências, impasses, dúvidas, ansiedade, depressão, e a violência é a válvula de escape que substitui a atenção e o diálogo. É como uma erupção vulcânica. Explode para aliviar a pressão. E o fará em direção aos mais frágeis, pois terá exemplos registrados no seu repertório. A cultura de gritos e xingamentos entre irmãos, pais e mães, vizinhos, políticos vai se avolumando como recurso no cérebro em desenvolvimento.

Acolher a criança vítima e acolher a criança violenta. À primeira, compreensão, solidariedade e a criação conjunta de estratégias de fortalecimento da autoestima e da autoconfiança. À segunda, compreensão e expansão conjunta das habilidades sociais. As duas intervenções devem ser pautadas em diálogo e oportunidades de prática. Nada de púlpito ou discursos.

Muitas vezes, crianças ou adolescentes com potencial para o exercício de liderança, caso não orientados adequadamente, liderarão grupos violentos. Redirecionar essa capacidade, apoiar o desenvolvimento funcional dessa liderança pode neutralizar o reconhecimento obtido pela violência, através do reconhecimento das ações construtivas.

Finalmente, mas o mais importante: praticar, ensinar e cultivar a sintonização empática. A empatia, da qual temos estrutura, será funcional quando deliberadamente praticada. Se cada um de nós, adultos, assumirmos a missão de trazer para o centro da nossa prática valores cognitivos e morais e, com a coerência obtida, nos conectarmos empaticamente com as crianças e os adolescentes, poderemos iniciar uma pequena tsunami do bem.

Sinto-me um tanto repetitiva quando escrevo isso, mas lá vai: cuide bem de si mesmo enquanto isso. Compaixão pela criança interna pode ser um belo início de missão!

Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
Última atualização
3/9/2024 0:19

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.