Pensando na minha jornada profissional, vejo-me, boa parte do tempo, partilhando decisões com meus clientes que os levam a experimentar novos modus operandi.
Modus operandi (latim) traduzida literalmente para o português indica “modo de operação". A expressão determina a maneira que determinada pessoa utiliza para trabalhar ou agir, ou seja, suas rotinas e seus processos de realização.
Navegando nos mares das mentiras, das falsas notícias, dos enganos, invariavelmente me assusto. Ao analisar as ondas pútridas dos engodos, ainda me espanto de saber que pessoas escolhem mentir e outras tantas também escolhem aceitar a manipulação.
Honestidade está na ponta oposta deste comportamento. Uma pessoa honesta será honrada, respeitada, digna. As outras pessoas saberão que, ao conviver com honestidade, não serão submetidas às mentiras, às fraudes, aos enganos.
“Quando a luz dos olhos meus / E a luz dos olhos teus / Resolvem se encontrar / Ai que bom que isso é meu Deus”, fragmento de texto de Vinicius, musicado por Tom Jobim – uma bela canção, que de certa forma ilustra minhas reflexões mais recentes.
A conexão entre dois olhares é potente de tal maneira que a “luz” é muito razoável como descrição. Um rosto humano solicita a compreensão da singularidade, da coragem e da solidão de cada um de nós neste planeta. Ao nos conectar, inevitavelmente, seremos levados, pela nossa estrutura enquanto espécie, a traduzir as expressões do ser à nossa frente.
Cada abandono gera trauma e dívida. O abandonado lidará com esta dor, que, não tratada, poderá acompanhá-lo pela jornada inteira da vida. Aquele que abandona adquire uma dívida, que mesmo negada, lá estará, acumulando-se em pilhas e pilhas de afeto negado, cuidado negado, segurança negada, estímulo negado, validação negada. Diferentes dimensões da inadimplência emocional.
Quero dialogar a respeito do abandono parental, mas qualquer abandono tem potencial gerador de dor e dívida. Ou seja, em qualquer época será muito duro lidar com abandono, mas nada será comparado com o dano causado a uma criança quando é abandonada pelos seus genitores ou cuidadores.
Aspectos de mim que não conheço alicerçam minha jornada pela vida. É quase assustador pensar que, dos recônditos da minha mente, o que não conheço estimula minhas reações ao viver.
Alguns desses fatores se perderam na memória ou se escondem com eficiência. Outros, enterrei deliberadamente. Muitos arranham a superfície da consciência e quase se apresentam. Outros estão submersos profundamente e sei que, mesmo das sombras, sabotam e desestabilizam meus meios e modos de gerenciar a vida.
Todos os dias, com maior ou menor abrangência, um aprendizado. Às vezes, uma ampliação de consciência através do estudo. Outras vezes, a observação das pessoas e suas interações oferece informações muito ricas. De vez em quando, uma nuvem sombria possibilita incremento do meu repertório de respostas. E, em quase todas as vezes, aprendo nos diálogos nos quais me envolvo. Eles me trazem luz. A caminhada é rica.
Tenho plena consciência de que esse aprendizado, longe de ser romântico, é originado em uma decisão de consciência. De estar presente, de acionar escolhas diferenciadas em momentos distintos.
Quando as coisas estão seguindo seu fluxo normal é difícil perceber o que de fato importa. O que de verdade importa demanda atenção focada, pois são coisas pequeninas, que escapam do brilho frio da comercialização. Quase como se fosse um atributo de sobrevivência, nós os viventes tendemos aos padrões que se repetem. A repetição emprestar ao desafio do viver uma previsibilidade que tangencia a segurança. Tangencia, passa perto, mas de verdade a não previsibilidade é companhia fixa desta aventura humana.
À nossa volta se revezam múltiplos vetores não controláveis, fora das nossas mãos e, muitas vezes, fora da nossa capacidade de absorver, interpretar e internalizar. O que significa, superficialmente, que deveríamos minimamente desconfiar das nossas certezas.
Quando somos espectadores da coreografia sagrada de um relacionamento humano fluido, enxergamos o resultado e sempre parece mágico. É bem comum, neste momento de encantamento, a idealização, como se o acaso houvesse reunido aqueles seres e sua afinação tivesse surgido espontaneamente. Do nada. Sem esforço algum.
Assim como as grandes árvores, o relacionamento entre humanos surge a partir de uma semente. Pequena e frágil, sozinha nada faz. Sua simplicidade e quase invisibilidade contêm um universo.
Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.
A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".
Mudança é uma palavra pequena, até sonora, que esconde desconfortos alguns quase despercebidos. E é também símbolo de pelo menos um paradoxo: mudar gera oportunidade de movimento, expansão e até desenvolvimento, mas apresenta o risco, maior ou menor, de sair do previsível para o não previsível.
As reações serão proporcionais às experiências vivenciadas com mudanças por cada pessoa. Cada pequena mudança colaborando na formação de um repertório de enfrentamento às situações. A tendência, de boa parte de nós é a manutenção. De horários, caminhos, alimentos, formas e maneiras de tomar decisão, manejo de erros e abordagem aos conflitos, dentre outras coisas. A busca por uma razoável previsibilidade é quase automática, pois a sensação de segurança depende em algum grau de saber onde estou e para onde vou.