Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Ciclo de julgamentos abala autoestima e afasta da realidade

As comparações geram danos emocionais profundos, exacerbados pelas redes sociais, levando ao afastamento da realidade e perpetuando exclusões históricas.As comparações geram danos emocionais profundos, exacerbados pelas redes sociais, levando ao afastamento da realidade e perpetuando exclusões históricas.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">Desde muito cedo, ainda criança</span>, eu ficava impressionada com as pessoas grandes se comparando ou comparando umas com as outras. Em uma família muito grande, nós, crianças, éramos, com frequência, submetidas aos tribunais dos adultos, que nos definiam com seus barulhentos julgamentos. Nem eles próprios imaginavam as pequenas feridas que iam se abrindo naquelas jovens psiques.

De modo semelhante, nas histórias infantis, aqui e acolá, tragédias representavam o desfecho de uma sequência interminável de comparações. Acredito que todos conseguem se lembrar da madrasta da Branca de Neve, que, já dona e proprietária do pai da menina e de seus bens, se desespera ao se comparar com a alva beleza da enteada. Com a duvidosa parceria do seu espelho "mágico", já que este era constrangido, ameaçado, forçado a manter a Rainha no pódio inconteste da beleza, para a Branca, ganhadora em uma comparação, a sentença de morte.

Um drama que se repete exaustivamente, com classificações em escolas, empresas e, maldição das maldições, nas redes sociais. Há uma definição deslocada da realidade, de padrões e critérios, e as pessoas se colocam (ou são colocadas) além ou aquém destes limites ensandecidos.

É violento comparar pessoas, uma violência tão absurda e tão contundente que provoca dores e feridas que são arrastadas pela vida afora. Dos dois lados há dor: da pessoa que compara e daquela que é atingida pela comparação. Muitas vezes, essa é uma prática que passa de uma geração a outra, naturalizando a violência ou mesmo apelidando-a de “método”.

Permeando o não tão simples processo, está a dificuldade um tanto coletiva de pensar, de refletir, de analisar os dados da realidade objetiva. Quanto mais nos distanciamos da realidade, mais utilizamos nossos repertórios internos para julgar – aos outros e a nós mesmos.

Nossos diálogos internos, representantes onipresentes dos adultos que colaboraram na formação do nosso ego parental, reduzem nossa perspectiva e esfarelam nossa percepção objetiva da realidade. São ruídos abrasivos, que ocupam o espaço da serenidade, do autoconhecimento, do estabelecimento de um relacionamento compassivo com quem somos e com nossa história.

Sob esse peso e sem a habilidade não desenvolvida de pensar, sobra a válvula de escape de julgar e, por consequência, comparar.

Um alívio momentâneo que nos leva a rotular pessoas, coisas, acontecimentos – tudo isto parametrizado pelas nossas imagens internas desfocadas ou desqualificadas.

Um alívio de curtíssima duração empurra as pessoas a buscar filtros, intervenções, posicionamentos que as fazem diminuir o fosso que, fantasiadamente, as separa dos padrões. Fosso que parece aumentar em ritmo mais acelerado do que as providências.

O frenesi de comparar e julgar afasta as pessoas, cada vez mais, da possibilidade de reconciliação com as imagens reais de si, do outro e da realidade.

Hoje, o espelho mágico que um dia enlouqueceu a madrasta da Branca de Neve está multiplicado em milhões de telas. Crianças, jovens, adultos são abduzidos no desespero de serem comparados e não “parecer com”, ou “não ser melhor que”, ou “não ser tão ruim assim”, gerando enredos de contos de terror.

Histórias se multiplicam com pessoas assumindo fraudulentamente vidas ou personagens que não lhes pertencem. Pessoas sendo excluídas por não atenderem às demandas de um padrão *mutatis mutandis*. Um padrão que mantém pilares de exclusão históricos de raça, gênero, situação socioeconômica, origem, etnia, ideologia religiosa ou política – e os sofistica, acrescentando camadas que são transmitidas em aceleração epidêmica de uma para outra pessoa e, depois, para as gerações seguintes. Muitos desistem no caminho.

Nós, humanos, não somos comparáveis. A nada, nem a outro ser humano. A história de cada um é particularíssima, cada passo em ritmo e direção únicos.

Única e incomparável, cada pessoa pode entregar para o mosaico da existência cor própria, luz própria, música própria, ritmo próprio e as próprias sombras. Única, incomparável e pensante – cada pessoa poderá se somar a outras tantas pessoas pensantes para construir possibilidades de expansão e avanço, para fugir dos encolhidos pântanos dos julgamentos e das comparações.

Última atualização
19/8/2024 21:07
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira. 

Opinião

Ciclo de julgamentos abala autoestima e afasta da realidade

As comparações geram danos emocionais profundos, exacerbados pelas redes sociais, levando ao afastamento da realidade e perpetuando exclusões históricas.As comparações geram danos emocionais profundos, exacerbados pelas redes sociais, levando ao afastamento da realidade e perpetuando exclusões históricas.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
19/8/2024 21:07
Maku de Almeida

A violência da comparação

<span class="abre-texto">Desde muito cedo, ainda criança</span>, eu ficava impressionada com as pessoas grandes se comparando ou comparando umas com as outras. Em uma família muito grande, nós, crianças, éramos, com frequência, submetidas aos tribunais dos adultos, que nos definiam com seus barulhentos julgamentos. Nem eles próprios imaginavam as pequenas feridas que iam se abrindo naquelas jovens psiques.

De modo semelhante, nas histórias infantis, aqui e acolá, tragédias representavam o desfecho de uma sequência interminável de comparações. Acredito que todos conseguem se lembrar da madrasta da Branca de Neve, que, já dona e proprietária do pai da menina e de seus bens, se desespera ao se comparar com a alva beleza da enteada. Com a duvidosa parceria do seu espelho "mágico", já que este era constrangido, ameaçado, forçado a manter a Rainha no pódio inconteste da beleza, para a Branca, ganhadora em uma comparação, a sentença de morte.

Um drama que se repete exaustivamente, com classificações em escolas, empresas e, maldição das maldições, nas redes sociais. Há uma definição deslocada da realidade, de padrões e critérios, e as pessoas se colocam (ou são colocadas) além ou aquém destes limites ensandecidos.

É violento comparar pessoas, uma violência tão absurda e tão contundente que provoca dores e feridas que são arrastadas pela vida afora. Dos dois lados há dor: da pessoa que compara e daquela que é atingida pela comparação. Muitas vezes, essa é uma prática que passa de uma geração a outra, naturalizando a violência ou mesmo apelidando-a de “método”.

Permeando o não tão simples processo, está a dificuldade um tanto coletiva de pensar, de refletir, de analisar os dados da realidade objetiva. Quanto mais nos distanciamos da realidade, mais utilizamos nossos repertórios internos para julgar – aos outros e a nós mesmos.

Nossos diálogos internos, representantes onipresentes dos adultos que colaboraram na formação do nosso ego parental, reduzem nossa perspectiva e esfarelam nossa percepção objetiva da realidade. São ruídos abrasivos, que ocupam o espaço da serenidade, do autoconhecimento, do estabelecimento de um relacionamento compassivo com quem somos e com nossa história.

Sob esse peso e sem a habilidade não desenvolvida de pensar, sobra a válvula de escape de julgar e, por consequência, comparar.

Um alívio momentâneo que nos leva a rotular pessoas, coisas, acontecimentos – tudo isto parametrizado pelas nossas imagens internas desfocadas ou desqualificadas.

Um alívio de curtíssima duração empurra as pessoas a buscar filtros, intervenções, posicionamentos que as fazem diminuir o fosso que, fantasiadamente, as separa dos padrões. Fosso que parece aumentar em ritmo mais acelerado do que as providências.

O frenesi de comparar e julgar afasta as pessoas, cada vez mais, da possibilidade de reconciliação com as imagens reais de si, do outro e da realidade.

Hoje, o espelho mágico que um dia enlouqueceu a madrasta da Branca de Neve está multiplicado em milhões de telas. Crianças, jovens, adultos são abduzidos no desespero de serem comparados e não “parecer com”, ou “não ser melhor que”, ou “não ser tão ruim assim”, gerando enredos de contos de terror.

Histórias se multiplicam com pessoas assumindo fraudulentamente vidas ou personagens que não lhes pertencem. Pessoas sendo excluídas por não atenderem às demandas de um padrão *mutatis mutandis*. Um padrão que mantém pilares de exclusão históricos de raça, gênero, situação socioeconômica, origem, etnia, ideologia religiosa ou política – e os sofistica, acrescentando camadas que são transmitidas em aceleração epidêmica de uma para outra pessoa e, depois, para as gerações seguintes. Muitos desistem no caminho.

Nós, humanos, não somos comparáveis. A nada, nem a outro ser humano. A história de cada um é particularíssima, cada passo em ritmo e direção únicos.

Única e incomparável, cada pessoa pode entregar para o mosaico da existência cor própria, luz própria, música própria, ritmo próprio e as próprias sombras. Única, incomparável e pensante – cada pessoa poderá se somar a outras tantas pessoas pensantes para construir possibilidades de expansão e avanço, para fugir dos encolhidos pântanos dos julgamentos e das comparações.

Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
Última atualização
19/8/2024 21:07

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.