<span class="abre-texto">De volta ao tema do narcisismo,</span> sob o enfoque dos relacionamentos tóxicos, cuja curiosidade se ampliou a partir de debates midiáticos sobre mães narcisistas, gostaria de tecer paralelos e propor uma provocação.
É sempre bom ressaltar que nenhum de nós está livre do narcisismo: ele nos constitui, na medida em que dependemos, em algum grau, das provisões de segurança e reconhecimento vindas do outro, algo intrínseco ao humano.
A questão a ser discutida é o grau de dependência que estabelecemos nestas relações intersubjetivas (e o outro aqui pode ser uma ou mais pessoas, um sistema ou uma coisa), bem como as idealizações que criamos para sustentarmos nosso autoamor e, em contrapartida, sentirmo-nos amados, aceitos, valorizados.
O bebê humano ao nascer, diferente de outras espécies, depende biologicamente, por longo período, de um cuidador para sobreviver.
Este modelo de relação com um outro que nos protege se estabelece de tal forma no nosso psiquismo que buscamos, ao longo de nossa existência, reproduzir vínculos com outras pessoas – ora para nos sentirmos protegidos, ora para protegermos – afinal, aprendemos assim.
De criança, para garantir um certo sucesso nestas relações, vamos nos inspirando em nossos pais (ou seu equivalente), com maior ou menor grau de subserviência a depender das características de cada unidade familiar em questão – alguns filhos mais obedientes, para não sofrer sanções desnecessárias, outros mais impositivos, diante de pais muito lenientes.
A função materna, não importa quem a exerça, alimenta o narcisismo infantil – garante que esta criança é única, será sempre tratada como rei ou rainha, pois seu desejo é lei (claro que na perspectiva da criança).
A função paterna teria o papel de integrar esta criança à vida em sociedade, impondo limites ao seu desejo e mostrando outras possibilidades fora do ninho, deixando claro que existem oportunidades interessantes, mas que caberá a ela conquistá-las – não no grito – num mundo compartilhado com outras pessoas (de novo, sem importar quem a exerça).
Eventuais excessos de um cuidador podem ser amenizados pelo outro e vice-versa.
Pois bem, não é fácil aos pais exercerem esses papéis, dentre tantos outros que lhes cabe, nesta vida atribulada que experienciamos. Manejo que, adequado ou não, no processo educacional da criança se manifesta em seu modo de ser quando adulto.
Por essa razão, vamos encontrando pessoas com traços que revelam, em seu processo educacional:
a) função materna exagerada – sentem-se os donos do mundo, batem os pés, precisam de súditos para tal ou, no extremo oposto, sequer conseguem assumir algo, pois tampouco chegaram a se desgrudar da barra da saia (ou da calça); ou,
b) função paterna massacrante – sentem-se mais fragilizados e dependentes do outro ou, no extremo oposto, buscam encontrar alguém para controlar e revidar tudo isso ou, ainda, preferem se isolar, prezando exageradamente a independência a eles imposta prematuramente.
Então vamos falar sobre a tal mãe narcisista. Seria aquela que exagerou na função materna – mimou demais, buscando satisfazer todos os caprichos de seu rebento, protegendo e retardando seu ingresso na cultura, mantendo-o preso a seu lado, prejudicando sua independência e contribuindo para sua infantilização? Ou seria aquela que exagerou na função paterna, impondo regras para além da capacidade da criança, profundamente orgulhosa pela castração que promoveu, cortando cedo demais o cordão umbilical para que ela pudesse se virar sozinha, segundo seus padrões de exigência?
Percebam que a linha é tênue: ambas têm traços narcisistas – “acolher demais” ou “forçar o desmame antes do tempo” traz ganhos para elas. Mas, infelizmente, não sem consequências para a criança, como já mencionado.
Provável ganho da mãe que exagerou na função materna – a criança não desgruda, o que alimenta sua onipotência e vitimização: “tudo eu”!
Provável ganho da mãe que exagerou na função paterna – a criança sai logo de perto, passa a dar menos trabalho e a mãe resgata sua independência, mais livre para cuidar de si mesma.
E então, qual delas preenche os pré-requisitos de mãe narcisista? Parece que seria uma mistura das duas.
Afinal, atitudes narcisistas, no que se refere aos ganhos obtidos a partir desta ou daquela forma de agir, podem ser consideradas situacionais e, falamos até aqui em extremos quando, na prática, somos uma combinação disso tudo.
Tanto a mãe que exagerou na função materna quanto a mãe que exagerou na função paterna partiram da premissa de que é assim que se educam filhos, com erros e acertos previsíveis nestes papéis. Parece cruel querer crucificá-las pelo que fizeram ou deixaram de fazer. Agiram como conseguiram agir, simples assim.
Sempre lembrando: há outros educadores no processo – ou, ao menos, deveria haver – que podem fazer o contraponto para equilibrar eventuais exageros.
A propósito, por onde andam os pais narcisistas? Eles não existem? Em tempos de rotulação barata, vale refletir a respeito.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.
<span class="abre-texto">De volta ao tema do narcisismo,</span> sob o enfoque dos relacionamentos tóxicos, cuja curiosidade se ampliou a partir de debates midiáticos sobre mães narcisistas, gostaria de tecer paralelos e propor uma provocação.
É sempre bom ressaltar que nenhum de nós está livre do narcisismo: ele nos constitui, na medida em que dependemos, em algum grau, das provisões de segurança e reconhecimento vindas do outro, algo intrínseco ao humano.
A questão a ser discutida é o grau de dependência que estabelecemos nestas relações intersubjetivas (e o outro aqui pode ser uma ou mais pessoas, um sistema ou uma coisa), bem como as idealizações que criamos para sustentarmos nosso autoamor e, em contrapartida, sentirmo-nos amados, aceitos, valorizados.
O bebê humano ao nascer, diferente de outras espécies, depende biologicamente, por longo período, de um cuidador para sobreviver.
Este modelo de relação com um outro que nos protege se estabelece de tal forma no nosso psiquismo que buscamos, ao longo de nossa existência, reproduzir vínculos com outras pessoas – ora para nos sentirmos protegidos, ora para protegermos – afinal, aprendemos assim.
De criança, para garantir um certo sucesso nestas relações, vamos nos inspirando em nossos pais (ou seu equivalente), com maior ou menor grau de subserviência a depender das características de cada unidade familiar em questão – alguns filhos mais obedientes, para não sofrer sanções desnecessárias, outros mais impositivos, diante de pais muito lenientes.
A função materna, não importa quem a exerça, alimenta o narcisismo infantil – garante que esta criança é única, será sempre tratada como rei ou rainha, pois seu desejo é lei (claro que na perspectiva da criança).
A função paterna teria o papel de integrar esta criança à vida em sociedade, impondo limites ao seu desejo e mostrando outras possibilidades fora do ninho, deixando claro que existem oportunidades interessantes, mas que caberá a ela conquistá-las – não no grito – num mundo compartilhado com outras pessoas (de novo, sem importar quem a exerça).
Eventuais excessos de um cuidador podem ser amenizados pelo outro e vice-versa.
Pois bem, não é fácil aos pais exercerem esses papéis, dentre tantos outros que lhes cabe, nesta vida atribulada que experienciamos. Manejo que, adequado ou não, no processo educacional da criança se manifesta em seu modo de ser quando adulto.
Por essa razão, vamos encontrando pessoas com traços que revelam, em seu processo educacional:
a) função materna exagerada – sentem-se os donos do mundo, batem os pés, precisam de súditos para tal ou, no extremo oposto, sequer conseguem assumir algo, pois tampouco chegaram a se desgrudar da barra da saia (ou da calça); ou,
b) função paterna massacrante – sentem-se mais fragilizados e dependentes do outro ou, no extremo oposto, buscam encontrar alguém para controlar e revidar tudo isso ou, ainda, preferem se isolar, prezando exageradamente a independência a eles imposta prematuramente.
Então vamos falar sobre a tal mãe narcisista. Seria aquela que exagerou na função materna – mimou demais, buscando satisfazer todos os caprichos de seu rebento, protegendo e retardando seu ingresso na cultura, mantendo-o preso a seu lado, prejudicando sua independência e contribuindo para sua infantilização? Ou seria aquela que exagerou na função paterna, impondo regras para além da capacidade da criança, profundamente orgulhosa pela castração que promoveu, cortando cedo demais o cordão umbilical para que ela pudesse se virar sozinha, segundo seus padrões de exigência?
Percebam que a linha é tênue: ambas têm traços narcisistas – “acolher demais” ou “forçar o desmame antes do tempo” traz ganhos para elas. Mas, infelizmente, não sem consequências para a criança, como já mencionado.
Provável ganho da mãe que exagerou na função materna – a criança não desgruda, o que alimenta sua onipotência e vitimização: “tudo eu”!
Provável ganho da mãe que exagerou na função paterna – a criança sai logo de perto, passa a dar menos trabalho e a mãe resgata sua independência, mais livre para cuidar de si mesma.
E então, qual delas preenche os pré-requisitos de mãe narcisista? Parece que seria uma mistura das duas.
Afinal, atitudes narcisistas, no que se refere aos ganhos obtidos a partir desta ou daquela forma de agir, podem ser consideradas situacionais e, falamos até aqui em extremos quando, na prática, somos uma combinação disso tudo.
Tanto a mãe que exagerou na função materna quanto a mãe que exagerou na função paterna partiram da premissa de que é assim que se educam filhos, com erros e acertos previsíveis nestes papéis. Parece cruel querer crucificá-las pelo que fizeram ou deixaram de fazer. Agiram como conseguiram agir, simples assim.
Sempre lembrando: há outros educadores no processo – ou, ao menos, deveria haver – que podem fazer o contraponto para equilibrar eventuais exageros.
A propósito, por onde andam os pais narcisistas? Eles não existem? Em tempos de rotulação barata, vale refletir a respeito.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.