Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Angústia e ansiedade: duas faces da mesma moeda?

Conheça as dinâmicas entre ansiedade e angústia e como elas impactam nosso cotidiano e bem-estar. Conheça as dinâmicas entre ansiedade e angústia e como elas impactam nosso cotidiano e bem-estar.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Áurea Moneo

<span class="abre-texto">Parece que estes dois estados emocionais</span> estão cada vez mais impregnados em nosso psiquismo, ganhando proporções que beiram ao descontrole.

O que podemos dizer, isoladamente, sobre estes afetos que, de vez em vez, têm a capacidade de sequestrar nossa paz interior?

Sabemos que, em boa parte do tempo, a vida não é nenhum mar de rosas: podem até surgir períodos de calmaria, mas seguidos bem de perto por inquietações e provocações, com potencial para nos tirar do eixo, convidando-nos a rir ou chorar.

Somos seres pulsionais. Reagimos àquilo que nos tira do estado de repouso ou, num termo mais apropriado, reagimos ao que nos tira do princípio do prazer. Com isso vamos adquirindo musculatura emocional para lidar com a vida e seus revezes; do contrário permaneceríamos infantilizados, aguardando que alguém resolvesse nossos dilemas, como mamãe o fazia quando éramos bebês.

Vale enfatizar que são inúmeras as oportunidades para treinarmos e ampliarmos nossa capacidade de resiliência.

Reporto aqui às agradáveis, instigantes, vindas sob o formato de promessas de um prazer não imediato, requisitando certo investimento de energia, provocando ansiedade em consequência do que nos põe em movimento, com o propósito mesmo de nos impulsionar – dando-nos certa noção de utilidade necessária à efervescência de nossas potencialidades e emprestando sentido à vida –, portanto uma ansiedade benvinda, desde que calibrada, embora psiquicamente acompanhada por algumas pitadas (ou muitas) de angústia, cabendo ao sujeito que acolhe esta vibração interna dar forma aos projetos internalizados, os quais agora pedem passagem para ganhar corpo “extramuros”, fora da mente.

Mas existem também as situações desagradáveis, boa parte delas imprevisíveis, a pactuarem com nossos temores mais profundos, atualizando receios e disseminando a leitura de não darmos conta do recado pelo despreparo em que nos encontramos... escancarando sensações de impotência sob a ótica do intransponível. E aí ansiedade e angústia se potencializam efetivamente: a ansiedade, que nos movimenta ao despertar e correr atrás do prejuízo; e a angústia, por nos direcionar ao papel de sermos cooptados pelo desejo de esperar a tormenta passar, de não ter de estabelecer ou alavancar ação alguma pois tudo costuma se mostrar inapropriado!

Falamos até aqui de ansiedade ligada ao momento presente, misturada com a angústia que decorre da necessidade de ter de fazer escolhas.

Podemos acrescentar outro fator agravante da dimensão da angústia: aquela que surge quando mergulhamos nas reminiscências do passado, com riscos de permanecermos presos no pretérito por duas possibilidades distintas – ou em função do agradável que desejaríamos se repetisse, ou, do desagradável que gostaríamos de alterar – e assim, paralisados no ido, sequer nos darmos conta da perda de tempo ao escolher ali ficar.

Claro que a nostalgia – estado de ânimo experimentado ao se recordar vivências agradáveis –, quando eventual e não prejudicial à caminhada, pode ser um alento, servindo de referência para seguirmos em frente. Assim como a reparação! Mediante atitudes inadequadas já ocorridas, o mecanismo defensivo da reparação também oferece o dom de se resgatar a sensação de bem-estar e, a propósito, já é um movimento do hoje, uma escolha atual, a partir de uma situação ocorrida no passado.

Como igualmente podemos experimentar um afluxo intenso de tais estados emocionais ao nos deixarmos reger por um “excesso de futuro”, com novas e novas “injeções” de ânimo, podendo beirar, inclusive, a uma overdose de impulsos ansiosos – o que certamente irá acarretar doses extras de angústia pois, forçosamente, será novamente ele, o sujeito, quem terá que dar forma ao intento e tomar ação.

Talvez repensar a relação entre o ritmo que estamos imprimindo em nossas atividades no presente e a qualidade de tempo a elas associada possa, sim, ser a chave para equilibrar melhor a ansiedade envolvida nas escolhas que bancamos fazer e sua inerente angústia, o que é válido, claro, para ações eleitas por nós.

Contudo, sempre haverá o contingencial, para o qual não há muita alternativa, a não ser aceitar o que chega e aprender a lidar da melhor maneira possível, entendendo que, embora não tendo sido planejado, faz parte do jogo! Há que se levar em conta, a partir do evento inesperado, como me implico nisto, ou seja: qual meu papel na bagunça que se transformou a minha vida e o que posso fazer sobre isso no momento para seguir adiante.

E assim, frente ao que foi planejado e perante o inevitável que costuma furar a fila, nada como um dia após o outro, cuidando para não se deixar paralisar ou atolar.

Como disse o psicanalista Contardo Calligaris: “A única vida interessante é a que acontece aqui e agora. Não precisa ser épico, não precisa ser extraordinário, não precisa nada. Precisa da presença efetiva de quem está vivendo”.

Última atualização
14/5/2024 7:30
Áurea Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); pós-graduada em Psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em Psicanálise, pelo Instituto Superior de Psicanálise de Brasília. Outras formações acadêmicas: pós-graduada em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); pós-graduada em Administração, pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo; graduada em Arquitetura, pelo Mackenzie. Responsável pela gestão organizacional e pedagógica do Centro de Formação em Psicanálise Clínica – Illumen, com sede em São Paulo, desde 2010. Leciona Psicanálise, com notória especialidade, responsável pela preparação psicanalítica de novos alunos e professores do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2001.

Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22)

Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22)

Redação Cidade Capital
13/9/2024 11:00

O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. 

O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.

No Brasil, 90% acredita que redes sociais não protegem crianças

No Brasil, 90% acredita que redes sociais não protegem crianças

Redação Cidade Capital
13/9/2024 9:53

Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.

Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.

Opinião

Angústia e ansiedade: duas faces da mesma moeda?

Conheça as dinâmicas entre ansiedade e angústia e como elas impactam nosso cotidiano e bem-estar. Conheça as dinâmicas entre ansiedade e angústia e como elas impactam nosso cotidiano e bem-estar.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Áurea Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); pós-graduada em Psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em Psicanálise, pelo Instituto Superior de Psicanálise de Brasília. Outras formações acadêmicas: pós-graduada em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); pós-graduada em Administração, pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo; graduada em Arquitetura, pelo Mackenzie. Responsável pela gestão organizacional e pedagógica do Centro de Formação em Psicanálise Clínica – Illumen, com sede em São Paulo, desde 2010. Leciona Psicanálise, com notória especialidade, responsável pela preparação psicanalítica de novos alunos e professores do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2001.
14/5/2024 7:17
Áurea Moneo

Angústia e ansiedade: duas faces da mesma moeda?

<span class="abre-texto">Parece que estes dois estados emocionais</span> estão cada vez mais impregnados em nosso psiquismo, ganhando proporções que beiram ao descontrole.

O que podemos dizer, isoladamente, sobre estes afetos que, de vez em vez, têm a capacidade de sequestrar nossa paz interior?

Sabemos que, em boa parte do tempo, a vida não é nenhum mar de rosas: podem até surgir períodos de calmaria, mas seguidos bem de perto por inquietações e provocações, com potencial para nos tirar do eixo, convidando-nos a rir ou chorar.

Somos seres pulsionais. Reagimos àquilo que nos tira do estado de repouso ou, num termo mais apropriado, reagimos ao que nos tira do princípio do prazer. Com isso vamos adquirindo musculatura emocional para lidar com a vida e seus revezes; do contrário permaneceríamos infantilizados, aguardando que alguém resolvesse nossos dilemas, como mamãe o fazia quando éramos bebês.

Vale enfatizar que são inúmeras as oportunidades para treinarmos e ampliarmos nossa capacidade de resiliência.

Reporto aqui às agradáveis, instigantes, vindas sob o formato de promessas de um prazer não imediato, requisitando certo investimento de energia, provocando ansiedade em consequência do que nos põe em movimento, com o propósito mesmo de nos impulsionar – dando-nos certa noção de utilidade necessária à efervescência de nossas potencialidades e emprestando sentido à vida –, portanto uma ansiedade benvinda, desde que calibrada, embora psiquicamente acompanhada por algumas pitadas (ou muitas) de angústia, cabendo ao sujeito que acolhe esta vibração interna dar forma aos projetos internalizados, os quais agora pedem passagem para ganhar corpo “extramuros”, fora da mente.

Mas existem também as situações desagradáveis, boa parte delas imprevisíveis, a pactuarem com nossos temores mais profundos, atualizando receios e disseminando a leitura de não darmos conta do recado pelo despreparo em que nos encontramos... escancarando sensações de impotência sob a ótica do intransponível. E aí ansiedade e angústia se potencializam efetivamente: a ansiedade, que nos movimenta ao despertar e correr atrás do prejuízo; e a angústia, por nos direcionar ao papel de sermos cooptados pelo desejo de esperar a tormenta passar, de não ter de estabelecer ou alavancar ação alguma pois tudo costuma se mostrar inapropriado!

Falamos até aqui de ansiedade ligada ao momento presente, misturada com a angústia que decorre da necessidade de ter de fazer escolhas.

Podemos acrescentar outro fator agravante da dimensão da angústia: aquela que surge quando mergulhamos nas reminiscências do passado, com riscos de permanecermos presos no pretérito por duas possibilidades distintas – ou em função do agradável que desejaríamos se repetisse, ou, do desagradável que gostaríamos de alterar – e assim, paralisados no ido, sequer nos darmos conta da perda de tempo ao escolher ali ficar.

Claro que a nostalgia – estado de ânimo experimentado ao se recordar vivências agradáveis –, quando eventual e não prejudicial à caminhada, pode ser um alento, servindo de referência para seguirmos em frente. Assim como a reparação! Mediante atitudes inadequadas já ocorridas, o mecanismo defensivo da reparação também oferece o dom de se resgatar a sensação de bem-estar e, a propósito, já é um movimento do hoje, uma escolha atual, a partir de uma situação ocorrida no passado.

Como igualmente podemos experimentar um afluxo intenso de tais estados emocionais ao nos deixarmos reger por um “excesso de futuro”, com novas e novas “injeções” de ânimo, podendo beirar, inclusive, a uma overdose de impulsos ansiosos – o que certamente irá acarretar doses extras de angústia pois, forçosamente, será novamente ele, o sujeito, quem terá que dar forma ao intento e tomar ação.

Talvez repensar a relação entre o ritmo que estamos imprimindo em nossas atividades no presente e a qualidade de tempo a elas associada possa, sim, ser a chave para equilibrar melhor a ansiedade envolvida nas escolhas que bancamos fazer e sua inerente angústia, o que é válido, claro, para ações eleitas por nós.

Contudo, sempre haverá o contingencial, para o qual não há muita alternativa, a não ser aceitar o que chega e aprender a lidar da melhor maneira possível, entendendo que, embora não tendo sido planejado, faz parte do jogo! Há que se levar em conta, a partir do evento inesperado, como me implico nisto, ou seja: qual meu papel na bagunça que se transformou a minha vida e o que posso fazer sobre isso no momento para seguir adiante.

E assim, frente ao que foi planejado e perante o inevitável que costuma furar a fila, nada como um dia após o outro, cuidando para não se deixar paralisar ou atolar.

Como disse o psicanalista Contardo Calligaris: “A única vida interessante é a que acontece aqui e agora. Não precisa ser épico, não precisa ser extraordinário, não precisa nada. Precisa da presença efetiva de quem está vivendo”.

Áurea Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); pós-graduada em Psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em Psicanálise, pelo Instituto Superior de Psicanálise de Brasília. Outras formações acadêmicas: pós-graduada em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); pós-graduada em Administração, pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo; graduada em Arquitetura, pelo Mackenzie. Responsável pela gestão organizacional e pedagógica do Centro de Formação em Psicanálise Clínica – Illumen, com sede em São Paulo, desde 2010. Leciona Psicanálise, com notória especialidade, responsável pela preparação psicanalítica de novos alunos e professores do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2001.
Última atualização
14/5/2024 7:30

Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22)

Redação Cidade Capital
13/9/2024 11:00

O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. 

O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.

No Brasil, 90% acredita que redes sociais não protegem crianças

Redação Cidade Capital
13/9/2024 9:53

Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.

Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.