O espaço em que vivemos é fonte de discurso e de discussão há muito tempo, em diferentes campos do conhecimento, entendido, sobretudo, como o local que ocupamos, a forma da sua ocupação e dos seus habitantes. Mas o espaço também é abordado, nesses debates, como um meio onde é possível materializar as formas de expressão da cultura e do momento. Conforme relatado no livro O chamado da cidade: ensaios sobre a urbanidade (Eliana Kuster e Roberto Pechman, 2014), “a cidade não é um simples suporte geográfico, uma reles materialidade da política, um conjunto de lugares. Ela é bem mais ‘um jogo de relações’” (p. 36). A curiosidade pelas relações ou possíveis vínculos humanos na cidade, vínculos de prazer ou de horror (como tratado por Baudelaire), é movida pelo desejo de entender o que acontece ou movimenta o espaço urbano e seus personagens. Ou ainda, de como os seus habitantes são percebidos no local onde vivem e de como o local influencia no seu estar, no seu viver.
No trabalho artístico que apresento neste texto, chamado Lost thoughts [Pensamentos perdidos], existe a exploração do figurativo, da tentativa de identificar e materializar o indivíduo, com suas sensações e emoções, inserido no ambiente em um determinado momento e local. Como na fotografia documental e de pesquisa humana de Edward Sheriff Curtis (1868-1952) dos nativos americanos do início do século XX ou nos retratos pintados do século XVIII, que imortalizaram o comportamento e o ambiente de uma época. E, ainda, na obra do fotógrafo brasileiro Luiz Braga (1956-), que mostra o povo amazonense em formas e cores surreais, como na fotografia do Barqueiro azul em Manaus (1992).
A imagem que apresento faz parte de uma série que mostra cabeças, bustos e corpos estranhos num espaço improvável, mas possível pela realização gráfica e artística. Na materialização do caminho da construção ou desconstrução das imagens, busquei reproduzir sensações ou experiências do indivíduo na cidade, num local, numa história, com cores e montagens (im)possíveis — explorar algo fantasmagórico, inquieto e melancólico, neste momento que se vive.
O trabalho apresentado está associado à técnica collagraphy ou collography (livremente traduzida por “colagrafia” ou “colografia”, ou ainda “colagravura”), mas vem de experimentações anteriores com fotografia, colagem e litogravura em mais de uma matriz. A colografia é uma técnica que utiliza materiais como cola aplicada em papelão duro ou massa acrílica aplicada em placa acrílica. Os processos de entintamento, limpeza e impressão são similares aos da gravura em metal, embora a colografia utilize materiais menos agressivos ao meio ambiente. As matrizes podem ser produzidas fora do ateliê convencional de gravura, sem a necessidade do uso das "litos" (matrizes de pedra pesadas e que podem ser encontradas no ateliê do Museu da Gravura Cidade de Curitiba, por exemplo) ou dos ácidos para corroer as matrizes de metal. Cada matriz de colografia permite a impressão de uma média de 5 cópias, conforme as experimentações que realizei.
Outra possibilidade permitida pela colografia é a exploração de matrizes em tamanhos maiores, por conta do custo e disponibilidade dos recursos. Uma folha de papel Paraná (tamanho 100 x 80 cm) é mais acessível do que uma placa de metal ou uma pedra de litogravura (no mesmo tamanho). Isso vale igualmente para os materiais utilizados na gravação. Entretanto, o tamanho dos papeis é limitado pelo tamanho da prensa calcográfica utilizada na impressão.
A praticidade na produção em grandes formatos, a disponibilidade do material utilizado, o custo menor associado e o menor impacto ambiental são, assim, algumas das vantagens da colografia. Em minha pesquisa poética, a exploração do material, o aprofundamento de questões humanas e sua representação gráfica têm mobilizado novas experimentações e realizações com esta técnica de gravura.
Por Sander Riquetti.
O número de mortes causadas por policiais militares no estado de São Paulo quase dobraram em relação ao primeiro semestre de 2023. Neste ano, foram registrados 296 óbitos, contra 154 no mesmo período do ano passado.
As operações policiais na Baixada Santista, como a Operação Escudo e a Operação Verão, são apontadas como fatores para o aumento da violência policial.
Nesses últimos dias, meu diálogo interno teve entusiasmadas e atrapalhadas conversas, diante de momentos de puro prazer e outros de tormenta pura.
A vida segue, os tempos bons e os desafios se apresentam.
O espaço em que vivemos é fonte de discurso e de discussão há muito tempo, em diferentes campos do conhecimento, entendido, sobretudo, como o local que ocupamos, a forma da sua ocupação e dos seus habitantes. Mas o espaço também é abordado, nesses debates, como um meio onde é possível materializar as formas de expressão da cultura e do momento. Conforme relatado no livro O chamado da cidade: ensaios sobre a urbanidade (Eliana Kuster e Roberto Pechman, 2014), “a cidade não é um simples suporte geográfico, uma reles materialidade da política, um conjunto de lugares. Ela é bem mais ‘um jogo de relações’” (p. 36). A curiosidade pelas relações ou possíveis vínculos humanos na cidade, vínculos de prazer ou de horror (como tratado por Baudelaire), é movida pelo desejo de entender o que acontece ou movimenta o espaço urbano e seus personagens. Ou ainda, de como os seus habitantes são percebidos no local onde vivem e de como o local influencia no seu estar, no seu viver.
No trabalho artístico que apresento neste texto, chamado Lost thoughts [Pensamentos perdidos], existe a exploração do figurativo, da tentativa de identificar e materializar o indivíduo, com suas sensações e emoções, inserido no ambiente em um determinado momento e local. Como na fotografia documental e de pesquisa humana de Edward Sheriff Curtis (1868-1952) dos nativos americanos do início do século XX ou nos retratos pintados do século XVIII, que imortalizaram o comportamento e o ambiente de uma época. E, ainda, na obra do fotógrafo brasileiro Luiz Braga (1956-), que mostra o povo amazonense em formas e cores surreais, como na fotografia do Barqueiro azul em Manaus (1992).
A imagem que apresento faz parte de uma série que mostra cabeças, bustos e corpos estranhos num espaço improvável, mas possível pela realização gráfica e artística. Na materialização do caminho da construção ou desconstrução das imagens, busquei reproduzir sensações ou experiências do indivíduo na cidade, num local, numa história, com cores e montagens (im)possíveis — explorar algo fantasmagórico, inquieto e melancólico, neste momento que se vive.
O trabalho apresentado está associado à técnica collagraphy ou collography (livremente traduzida por “colagrafia” ou “colografia”, ou ainda “colagravura”), mas vem de experimentações anteriores com fotografia, colagem e litogravura em mais de uma matriz. A colografia é uma técnica que utiliza materiais como cola aplicada em papelão duro ou massa acrílica aplicada em placa acrílica. Os processos de entintamento, limpeza e impressão são similares aos da gravura em metal, embora a colografia utilize materiais menos agressivos ao meio ambiente. As matrizes podem ser produzidas fora do ateliê convencional de gravura, sem a necessidade do uso das "litos" (matrizes de pedra pesadas e que podem ser encontradas no ateliê do Museu da Gravura Cidade de Curitiba, por exemplo) ou dos ácidos para corroer as matrizes de metal. Cada matriz de colografia permite a impressão de uma média de 5 cópias, conforme as experimentações que realizei.
Outra possibilidade permitida pela colografia é a exploração de matrizes em tamanhos maiores, por conta do custo e disponibilidade dos recursos. Uma folha de papel Paraná (tamanho 100 x 80 cm) é mais acessível do que uma placa de metal ou uma pedra de litogravura (no mesmo tamanho). Isso vale igualmente para os materiais utilizados na gravação. Entretanto, o tamanho dos papeis é limitado pelo tamanho da prensa calcográfica utilizada na impressão.
A praticidade na produção em grandes formatos, a disponibilidade do material utilizado, o custo menor associado e o menor impacto ambiental são, assim, algumas das vantagens da colografia. Em minha pesquisa poética, a exploração do material, o aprofundamento de questões humanas e sua representação gráfica têm mobilizado novas experimentações e realizações com esta técnica de gravura.
Por Sander Riquetti.
O número de mortes causadas por policiais militares no estado de São Paulo quase dobraram em relação ao primeiro semestre de 2023. Neste ano, foram registrados 296 óbitos, contra 154 no mesmo período do ano passado.
As operações policiais na Baixada Santista, como a Operação Escudo e a Operação Verão, são apontadas como fatores para o aumento da violência policial.
Nesses últimos dias, meu diálogo interno teve entusiasmadas e atrapalhadas conversas, diante de momentos de puro prazer e outros de tormenta pura.
A vida segue, os tempos bons e os desafios se apresentam.