<span class="abre-texto">A princípio, o homem vive uma vida exterior</span> e, mais tarde, uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito (citando Fernando Pessoa) – porque, e é sempre importante lembrar, projetamos para fora e para o outro o que negamos em nós desde bebês.
O ser humano prefere ser exaltado pelo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação, buscando infantilmente despertar a admiração e mesmo a inveja nos outros para, assim, elevar a própria autoestima – por conta da dependência de segurança e reconhecimento externos – alimentando um momentâneo e ilusório estado de prazer.
Esse sentimento, caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, constitui a raiz mais profunda do orgulho – raiz cuja semente é o medo.
É preciso ao adulto de hoje reconhecer o conflito que ocorre em seu mundo interno. Uma guerra que se trava de forma interna, mas que ameaça transbordar os limites emocionais do eu psíquico e manifestar-se no corpo físico inclusive.
Naturalmente, o conflito entre um medo e um desejo. Porque há uma ordem de conflitos capaz de alavancar drásticas perturbações na organização mental, exatamente porque o medo se faz filho do desejo... e assume a paternidade do orgulho.
Apesar do impulso que nos impele à ação para a consumação do desejo, aquilo que pode realmente apaziguar o ego em conflito se acha na dimensão da humildade em reconhecer a existência desse desejo e negociar consigo.
O reconhecimento do querer é o que nos induz a pensar; e, não é novidade o fato de que isso coincide com a capacidade de adiar a ação. Ainda assim, o reconhecer é assustador – isso por se tratar de um movimento interno que leva a abrir mão da satisfação do prazer que estaria na efetivação da ação.
A psicanálise ensina com muita clareza que pensar sobre as emoções diante do que causa frustração leva, queira ou não, ao reduto da realidade. E que pensar nos possibilita um desistir da satisfação imediata – que, apesar de ser prazerosa, é exatamente a responsável pelo conflito.
A proposta de considerar a dimensão do lado desconhecido da mente deve partir de certa experiência de humildade, na consideração da ignorância presente nas dores da alma e no conteúdo arcaico do inconsciente do homem.
Humildade é um termo advindo do latim húmus, cujo significado é terra fértil, apta a receber e frutificar sementes por se fomentar na riqueza dos bons nutrientes.
Entender que no cerne da humildade – contrariamente ao fosso do medo e das raízes doentias do orgulho – residem: a liberdade de sermos quem somos; a possibilidade de oferecer-nos ao novo, trazido pelo reduto social, com um olhar mais afetivo e articulado na ponderação ante aos desafios do cotidiano; o discernimento sobre a imperfeição que nos habita sem que a comparação se instale gerando angústia, menos valia e/ou revolta; e, a oportunidade de alcançarmos a felicidade possível, tanto no campo da realidade quase sempre frustrante, como na seara dos mal-entendidos resultantes da linguagem (verbal ou não verbal) nas relações humanas.
Buscar o enfrentamento dessas tendências basais mergulhadas ainda em nosso inconsciente primitivo é, a meu ver, o necessário percurso a ser trilhado, especialmente nesses tempos em que entidades políticas – reconhecidas como tal ou não – guerreiam em nome de reconhecimento de suas pretensas e relativas verdades, em tristes estratégias de busca por segurança (territorial, patrimonial, social, religiosa etc.), submetendo irmãos em humanidade ao luto, à dor, à humilhação, a traumas e ao desconsolo – homens, mulheres, idosos e crianças em busca de um chão, de um mínimo de amor e sobrevida, marchando sem aonde.
Sob o manto das guerras, o sentimento de superioridade aloja-se no grande dragão da vaidade – em exacerbada mais valia a validar o fogo insano da barbárie – que sobrevoa céus diversos, ignorando quem amarga a humildade espera por um chão mais fértil, nutrido pela paz externa e interna a cada um.
O número de mortes causadas por policiais militares no estado de São Paulo quase dobraram em relação ao primeiro semestre de 2023. Neste ano, foram registrados 296 óbitos, contra 154 no mesmo período do ano passado.
As operações policiais na Baixada Santista, como a Operação Escudo e a Operação Verão, são apontadas como fatores para o aumento da violência policial.
Nesses últimos dias, meu diálogo interno teve entusiasmadas e atrapalhadas conversas, diante de momentos de puro prazer e outros de tormenta pura.
A vida segue, os tempos bons e os desafios se apresentam.
<span class="abre-texto">A princípio, o homem vive uma vida exterior</span> e, mais tarde, uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito (citando Fernando Pessoa) – porque, e é sempre importante lembrar, projetamos para fora e para o outro o que negamos em nós desde bebês.
O ser humano prefere ser exaltado pelo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação, buscando infantilmente despertar a admiração e mesmo a inveja nos outros para, assim, elevar a própria autoestima – por conta da dependência de segurança e reconhecimento externos – alimentando um momentâneo e ilusório estado de prazer.
Esse sentimento, caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, constitui a raiz mais profunda do orgulho – raiz cuja semente é o medo.
É preciso ao adulto de hoje reconhecer o conflito que ocorre em seu mundo interno. Uma guerra que se trava de forma interna, mas que ameaça transbordar os limites emocionais do eu psíquico e manifestar-se no corpo físico inclusive.
Naturalmente, o conflito entre um medo e um desejo. Porque há uma ordem de conflitos capaz de alavancar drásticas perturbações na organização mental, exatamente porque o medo se faz filho do desejo... e assume a paternidade do orgulho.
Apesar do impulso que nos impele à ação para a consumação do desejo, aquilo que pode realmente apaziguar o ego em conflito se acha na dimensão da humildade em reconhecer a existência desse desejo e negociar consigo.
O reconhecimento do querer é o que nos induz a pensar; e, não é novidade o fato de que isso coincide com a capacidade de adiar a ação. Ainda assim, o reconhecer é assustador – isso por se tratar de um movimento interno que leva a abrir mão da satisfação do prazer que estaria na efetivação da ação.
A psicanálise ensina com muita clareza que pensar sobre as emoções diante do que causa frustração leva, queira ou não, ao reduto da realidade. E que pensar nos possibilita um desistir da satisfação imediata – que, apesar de ser prazerosa, é exatamente a responsável pelo conflito.
A proposta de considerar a dimensão do lado desconhecido da mente deve partir de certa experiência de humildade, na consideração da ignorância presente nas dores da alma e no conteúdo arcaico do inconsciente do homem.
Humildade é um termo advindo do latim húmus, cujo significado é terra fértil, apta a receber e frutificar sementes por se fomentar na riqueza dos bons nutrientes.
Entender que no cerne da humildade – contrariamente ao fosso do medo e das raízes doentias do orgulho – residem: a liberdade de sermos quem somos; a possibilidade de oferecer-nos ao novo, trazido pelo reduto social, com um olhar mais afetivo e articulado na ponderação ante aos desafios do cotidiano; o discernimento sobre a imperfeição que nos habita sem que a comparação se instale gerando angústia, menos valia e/ou revolta; e, a oportunidade de alcançarmos a felicidade possível, tanto no campo da realidade quase sempre frustrante, como na seara dos mal-entendidos resultantes da linguagem (verbal ou não verbal) nas relações humanas.
Buscar o enfrentamento dessas tendências basais mergulhadas ainda em nosso inconsciente primitivo é, a meu ver, o necessário percurso a ser trilhado, especialmente nesses tempos em que entidades políticas – reconhecidas como tal ou não – guerreiam em nome de reconhecimento de suas pretensas e relativas verdades, em tristes estratégias de busca por segurança (territorial, patrimonial, social, religiosa etc.), submetendo irmãos em humanidade ao luto, à dor, à humilhação, a traumas e ao desconsolo – homens, mulheres, idosos e crianças em busca de um chão, de um mínimo de amor e sobrevida, marchando sem aonde.
Sob o manto das guerras, o sentimento de superioridade aloja-se no grande dragão da vaidade – em exacerbada mais valia a validar o fogo insano da barbárie – que sobrevoa céus diversos, ignorando quem amarga a humildade espera por um chão mais fértil, nutrido pela paz externa e interna a cada um.
O número de mortes causadas por policiais militares no estado de São Paulo quase dobraram em relação ao primeiro semestre de 2023. Neste ano, foram registrados 296 óbitos, contra 154 no mesmo período do ano passado.
As operações policiais na Baixada Santista, como a Operação Escudo e a Operação Verão, são apontadas como fatores para o aumento da violência policial.
Nesses últimos dias, meu diálogo interno teve entusiasmadas e atrapalhadas conversas, diante de momentos de puro prazer e outros de tormenta pura.
A vida segue, os tempos bons e os desafios se apresentam.