Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Repertórios amplos contra mentalidades encolhidas

Explorando a importância da educação baseada no amor, pensamento crítico e repertórios amplos para formar indivíduos conscientes.Explorando a importância da educação baseada no amor, pensamento crítico e repertórios amplos para formar indivíduos conscientes.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">Uma importante dádiva a entregar</span> nas mãos dos nossos filhos é a capacidade de pensar. Menor talvez do que o amor incondicional, mas quem ama incondicionalmente estimulará o pensamento do outro. Aquele que ama não teme partilhar a visão da realidade do outro. Nem impedirá que o outro voe por horizontes largos e iluminados.

Pensar supõe examinar possibilidades, percepções, pontos de vista e tomar decisões. Logo, este pensamento que operacionaliza a vida, aprendido pela criança nos seus diferentes relacionamentos, pode ser a fronteira entre viver lucidamente ou não. Pensamentos que brotam de quadros de referências encolhidos e paralisados, reproduzirão mentalidades encolhidas e paralisadas.

Os diálogos sintonizados, equilibrados e mediados pelo profundo respeito (entrega sublime do amor incondicional) vão apresentando para a criança uma jornada, ou várias jornadas, rumo a diferentes horizontes, assim como os instrumentos que esta pessoa em andamento precisará para desvendar caminhos e chegadas.

Acontece que o pensamento descontaminado, que leva à lucidez, depende de repertórios. Construir repertórios, item fundamental na expansão e descontaminação do Quadro de Referência, se dá através da aquisição de conhecimentos. Conhecimentos de diferentes origens que permitam expansão. Esta aquisição se dá nos diálogos com pessoas e pode ser mediada pelos livros, teatro, cinema, música, programas de aprendizado.

Sintonizados ao andamento do desenvolvimento da pessoa, o mundo e seus personagens podem ser apresentados e, quanto mais ampla for a visão do anfitrião deste momento especial, mais relevantes e potentes serão os repertórios da criança, do jovem, do adulto emergente, do adulto maduro. Podemos nos manter em permanente movimento de expansão e evolução. Podemos e devemos, pois quanto mais desenvolvido for quem ensina, mais desenvolvimento facilitará em quem aprende.

O medo, escondido nas camadas cruéis do preconceito, restringe esta aquisição de repertório e brasileiros na sua sombra sem pensamentos se movimentam para editar uma versão confusa do Index.

O Index original foi lançado em 1559 pelo Papa Paulo IV e foi abolido pelo Papa Paulo VI em 1966. O Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos) tirava da circulação obras consideradas ameaçadoras. A gestão desta lista era partilhada entre a Inquisição e o Santo Ofício, que semeavam terror e disseminavam trevas na mais profunda acepção da palavra treva. Da última versão do Index, em 1948, constavam quatro mil títulos. Neste índice estavam cientistas, pensadores, escritores, poetas – dentre os quais alguns bem conhecidos: Galileu Galilei, Copérnico, Maquiavel, Espinosa, Pascal, Descartes, Voltaire, Victor Hugo, Jean-Paul Sartre. Não fosse a forte resistência que fez circular muitas destas obras clandestinamente, muito do conhecimento base para a ciência de hoje estaria trancado dentro das belas paredes do Vaticano.

E eis que aqui no nosso país, que precisa tanto de lucidez, que necessita urgentemente de expansão de quadro de referência, de consciência, de educação e de bons processos decisórios, pessoas comuns vestem a túnica dos inquisidores e arremessam na fogueira uma obra brasileira.

O avesso da pele de Jeferson Tenório lança luz sobre o racismo, através de cenas reais, em uma prosa bem construída, honrando nosso idioma e o contexto histórico do relato. É quase um compêndio, pois permite compreensão, passo a passo, desta nódoa horrorosa que ainda corrói nosso estrato social. Foi considerado perigoso por trazer à tona o racismo, o sistema educacional falido e a complicada relação entre pais e filhos. Vida real.

As pessoas que estão adotando esta moda do século 16 certamente não aprenderam a pensar e estão presas em um quadro de referência estreito, escuro, pequeno, medroso e treinados para ver demônios, os identificam até nas asas dos anjos.

Meu falecido pai, de vez em quando, dizia: Pensar dói. E dói mesmo. Acontece que o não pensar não dói, mas provoca danos extensos nas pessoas e sistemas. Nossas crianças, jovens, adultos emergentes e adultos maduros precisam olhar para além. É urgente expandir consciência e horizontes! É urgente ativar os sinais respeitosos do amor incondicional e inequívoco.

Última atualização
10/3/2024 9:55
Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Opinião

Repertórios amplos contra mentalidades encolhidas

Explorando a importância da educação baseada no amor, pensamento crítico e repertórios amplos para formar indivíduos conscientes.Explorando a importância da educação baseada no amor, pensamento crítico e repertórios amplos para formar indivíduos conscientes.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.
10/3/2024 8:33
Maku de Almeida

Repertórios amplos contra mentalidades encolhidas

<span class="abre-texto">Uma importante dádiva a entregar</span> nas mãos dos nossos filhos é a capacidade de pensar. Menor talvez do que o amor incondicional, mas quem ama incondicionalmente estimulará o pensamento do outro. Aquele que ama não teme partilhar a visão da realidade do outro. Nem impedirá que o outro voe por horizontes largos e iluminados.

Pensar supõe examinar possibilidades, percepções, pontos de vista e tomar decisões. Logo, este pensamento que operacionaliza a vida, aprendido pela criança nos seus diferentes relacionamentos, pode ser a fronteira entre viver lucidamente ou não. Pensamentos que brotam de quadros de referências encolhidos e paralisados, reproduzirão mentalidades encolhidas e paralisadas.

Os diálogos sintonizados, equilibrados e mediados pelo profundo respeito (entrega sublime do amor incondicional) vão apresentando para a criança uma jornada, ou várias jornadas, rumo a diferentes horizontes, assim como os instrumentos que esta pessoa em andamento precisará para desvendar caminhos e chegadas.

Acontece que o pensamento descontaminado, que leva à lucidez, depende de repertórios. Construir repertórios, item fundamental na expansão e descontaminação do Quadro de Referência, se dá através da aquisição de conhecimentos. Conhecimentos de diferentes origens que permitam expansão. Esta aquisição se dá nos diálogos com pessoas e pode ser mediada pelos livros, teatro, cinema, música, programas de aprendizado.

Sintonizados ao andamento do desenvolvimento da pessoa, o mundo e seus personagens podem ser apresentados e, quanto mais ampla for a visão do anfitrião deste momento especial, mais relevantes e potentes serão os repertórios da criança, do jovem, do adulto emergente, do adulto maduro. Podemos nos manter em permanente movimento de expansão e evolução. Podemos e devemos, pois quanto mais desenvolvido for quem ensina, mais desenvolvimento facilitará em quem aprende.

O medo, escondido nas camadas cruéis do preconceito, restringe esta aquisição de repertório e brasileiros na sua sombra sem pensamentos se movimentam para editar uma versão confusa do Index.

O Index original foi lançado em 1559 pelo Papa Paulo IV e foi abolido pelo Papa Paulo VI em 1966. O Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos) tirava da circulação obras consideradas ameaçadoras. A gestão desta lista era partilhada entre a Inquisição e o Santo Ofício, que semeavam terror e disseminavam trevas na mais profunda acepção da palavra treva. Da última versão do Index, em 1948, constavam quatro mil títulos. Neste índice estavam cientistas, pensadores, escritores, poetas – dentre os quais alguns bem conhecidos: Galileu Galilei, Copérnico, Maquiavel, Espinosa, Pascal, Descartes, Voltaire, Victor Hugo, Jean-Paul Sartre. Não fosse a forte resistência que fez circular muitas destas obras clandestinamente, muito do conhecimento base para a ciência de hoje estaria trancado dentro das belas paredes do Vaticano.

E eis que aqui no nosso país, que precisa tanto de lucidez, que necessita urgentemente de expansão de quadro de referência, de consciência, de educação e de bons processos decisórios, pessoas comuns vestem a túnica dos inquisidores e arremessam na fogueira uma obra brasileira.

O avesso da pele de Jeferson Tenório lança luz sobre o racismo, através de cenas reais, em uma prosa bem construída, honrando nosso idioma e o contexto histórico do relato. É quase um compêndio, pois permite compreensão, passo a passo, desta nódoa horrorosa que ainda corrói nosso estrato social. Foi considerado perigoso por trazer à tona o racismo, o sistema educacional falido e a complicada relação entre pais e filhos. Vida real.

As pessoas que estão adotando esta moda do século 16 certamente não aprenderam a pensar e estão presas em um quadro de referência estreito, escuro, pequeno, medroso e treinados para ver demônios, os identificam até nas asas dos anjos.

Meu falecido pai, de vez em quando, dizia: Pensar dói. E dói mesmo. Acontece que o não pensar não dói, mas provoca danos extensos nas pessoas e sistemas. Nossas crianças, jovens, adultos emergentes e adultos maduros precisam olhar para além. É urgente expandir consciência e horizontes! É urgente ativar os sinais respeitosos do amor incondicional e inequívoco.

Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.
Última atualização
10/3/2024 9:55

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Eu e minhas circunstâncias à busca de propósito

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

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