Uma das características mais marcantes na escolha de um político pela massa é a transferência (na concepção psicanalítica freudiana), que representa a busca do indivíduo por alguém que o proteja.
Múltiplas abordagens podem chegar mais ou menos ao mesmo resultado de análise. Pela psicanálise social de Freud, torna-se embaçada a linha entre o comportamento religioso e o político. Reflete-se na frase do seriado Chapolin Colorado: "E agora, quem poderá me defender?". Logo após, surge o herói com um número para a pessoa votar.
Na infância, em linhas gerais, os cuidadores são figuras heróicas, capazes de socorrer dos perigos conhecidos. Com a chegada do desamparo da maturidade, aquela proteção mágica faz muita falta e, justamente, ocorre a transferência desse papel para outra pessoa.
Há algo a ser acrescentado aqui. A saudade que sentimos da infância é suficientemente poderosa para deixar em nós o sabor do Éden perdido. Em alguma medida, somos refugiados de nossas próprias almas. Mas, de volta à política: além da psicanálise, a comunicação política oferece um mapa.
Uma pesquisa recente em comentários deixados no YouTube sobre um político proeminente (em um canal específico) constatou que mais da metade dos textos é de apoio incondicional, de rendição, de submissão adaptativa. Algumas frases são infantis ao extremo, como: "Só [tal político] para salvar o povo". Dos 500 comentários analisados, 51,6% não apresentam qualquer ponderação sobre o desempenho do político.
Uma ampla e profunda reforma política teria de começar por indivíduos menos rendidos.
Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.
A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".
Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.
Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.
Uma das características mais marcantes na escolha de um político pela massa é a transferência (na concepção psicanalítica freudiana), que representa a busca do indivíduo por alguém que o proteja.
Múltiplas abordagens podem chegar mais ou menos ao mesmo resultado de análise. Pela psicanálise social de Freud, torna-se embaçada a linha entre o comportamento religioso e o político. Reflete-se na frase do seriado Chapolin Colorado: "E agora, quem poderá me defender?". Logo após, surge o herói com um número para a pessoa votar.
Na infância, em linhas gerais, os cuidadores são figuras heróicas, capazes de socorrer dos perigos conhecidos. Com a chegada do desamparo da maturidade, aquela proteção mágica faz muita falta e, justamente, ocorre a transferência desse papel para outra pessoa.
Há algo a ser acrescentado aqui. A saudade que sentimos da infância é suficientemente poderosa para deixar em nós o sabor do Éden perdido. Em alguma medida, somos refugiados de nossas próprias almas. Mas, de volta à política: além da psicanálise, a comunicação política oferece um mapa.
Uma pesquisa recente em comentários deixados no YouTube sobre um político proeminente (em um canal específico) constatou que mais da metade dos textos é de apoio incondicional, de rendição, de submissão adaptativa. Algumas frases são infantis ao extremo, como: "Só [tal político] para salvar o povo". Dos 500 comentários analisados, 51,6% não apresentam qualquer ponderação sobre o desempenho do político.
Uma ampla e profunda reforma política teria de começar por indivíduos menos rendidos.
Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.
A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".
Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.
Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.