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Opinião

ONG na África revela valor inesperado da comunicação face a face

Descubra como um projeto de poços na África revelou a sede por encontros verdadeiros e a importância da comunicação não violenta para conexões autênticas.Descubra como um projeto de poços na África revelou a sede por encontros verdadeiros e a importância da comunicação não violenta para conexões autênticas.
Arte Cidade Capital
/
Adobe Firefly
Jane Hir

É muito cedo ainda, e no meu caminho para o trabalho, observo a multidão que passa absorta no mundo formatado da telinha, hoje quase uma extensão do corpo curvado, impedido de ver a vida ao redor.

Em meio à profusão de recursos comunicativos e da troca desenfreada de mensagens em diferentes plataformas padecemos da escassez do encontro.

Thomas D’Ansembourg conta em seu livro “Como se relacionar bem usando a Comunicação Não Violenta” a experiência de uma ONG na África que mandou construir poços e instalar bombas em uma aldeia para auxiliar a população que caminhava um dia inteiro para lavar roupa no rio e mais um dia para voltar à aldeia com a roupa lavada.

Realizado o projeto que exigiu trabalho e recursos financeiros, qual não foi a surpresa dos organizadores ao constatar que os habitantes haviam destruído as bombas.

Ao serem questionados sobre o motivo da destruição, os habitantes declararam que abriram mão do conforto das bombas d’água em favor do bem-estar de sua comunidade, pois as pessoas, sem a necessidade de irem juntas buscar água, tinham parado de conversar.

A ida coletiva ao rio abria um espaço de encontro. As histórias contadas entrelaçavam suas cores e a vida se nutria na escuta de si e do outro. Eles decidiram então, destruir as bombas e resgatar o costume de ir buscar água no rio.

E nós? Desconectados de nós mesmos nos anunciamos conectados em meio à ruidosa parafernália da comunicação atual e vamos definhando em silenciosa sede. Podemos jogar fora os nossos celulares? Voltar a cozinhar no fogão a lenha?

Não sei.

Então o que faremos? Qual a nossa saída? Qual o nosso rio possível?
A vida não desiste de nós e nos manda recados: um jovem que te elege confidente, alguém que tomado de inexplicável urgência resolve juntar amigos que não se viam há anos, o motorista do Uber que te conta uma história triste, uma amiga querida que você encontra de repente e cujo abraço te fortalece, uma vida precocemente interrompida pela dor da exclusão, a brisa que anuncia mais um outono...

Indícios de Vida, chamados para o Ser, convites ao Encontro...

O rio existe e exige entrega, presença e escuta. Não existem receitas e nem roteiros prontos. O caminho se faz ao caminhar como disse o poeta. No entanto, a boa nova precisa ser dada: Há uma outra vida possível!

Cabe a nós, aqueles que sentem o chamado, se fazerem arautos da descoberta. É preciso criar espaços de encontro em qualquer lugar: no elevador, na fila do ônibus ou do caixa do supermercado. É necessário lembrar de olhar nos olhos, de perguntar como o outro está.

É urgente fazer rodas de conversa, saraus, contação de histórias e de preferência, que seja sem muita preparação, quase de improviso mesmo, pra que a forma não seja mais importante que o conteúdo.

É preciso contar sobre o rio!

Última atualização
23/3/2024 15:40
Jane Hir
Mestra em Educação (UFPR); Professora de língua portuguesa; Especialista em Educação de Jovens e Adultos; Facilitadora de Práticas Restaurativas — Eseje (2017) e SCJR/Coonozco (2018); Especialista em Práticas Restaurativas, com enfoque em Direitos Humanos (PUCPR); Especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e Mindfulness (PUCPR).

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Opinião

ONG na África revela valor inesperado da comunicação face a face

Descubra como um projeto de poços na África revelou a sede por encontros verdadeiros e a importância da comunicação não violenta para conexões autênticas.Descubra como um projeto de poços na África revelou a sede por encontros verdadeiros e a importância da comunicação não violenta para conexões autênticas.
Arte Cidade Capital
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Adobe Firefly
Jane Hir
Mestra em Educação (UFPR); Professora de língua portuguesa; Especialista em Educação de Jovens e Adultos; Facilitadora de Práticas Restaurativas — Eseje (2017) e SCJR/Coonozco (2018); Especialista em Práticas Restaurativas, com enfoque em Direitos Humanos (PUCPR); Especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e Mindfulness (PUCPR).
23/3/2024 15:40
Jane Hir

ONG na África revela valor inesperado da comunicação face a face

É muito cedo ainda, e no meu caminho para o trabalho, observo a multidão que passa absorta no mundo formatado da telinha, hoje quase uma extensão do corpo curvado, impedido de ver a vida ao redor.

Em meio à profusão de recursos comunicativos e da troca desenfreada de mensagens em diferentes plataformas padecemos da escassez do encontro.

Thomas D’Ansembourg conta em seu livro “Como se relacionar bem usando a Comunicação Não Violenta” a experiência de uma ONG na África que mandou construir poços e instalar bombas em uma aldeia para auxiliar a população que caminhava um dia inteiro para lavar roupa no rio e mais um dia para voltar à aldeia com a roupa lavada.

Realizado o projeto que exigiu trabalho e recursos financeiros, qual não foi a surpresa dos organizadores ao constatar que os habitantes haviam destruído as bombas.

Ao serem questionados sobre o motivo da destruição, os habitantes declararam que abriram mão do conforto das bombas d’água em favor do bem-estar de sua comunidade, pois as pessoas, sem a necessidade de irem juntas buscar água, tinham parado de conversar.

A ida coletiva ao rio abria um espaço de encontro. As histórias contadas entrelaçavam suas cores e a vida se nutria na escuta de si e do outro. Eles decidiram então, destruir as bombas e resgatar o costume de ir buscar água no rio.

E nós? Desconectados de nós mesmos nos anunciamos conectados em meio à ruidosa parafernália da comunicação atual e vamos definhando em silenciosa sede. Podemos jogar fora os nossos celulares? Voltar a cozinhar no fogão a lenha?

Não sei.

Então o que faremos? Qual a nossa saída? Qual o nosso rio possível?
A vida não desiste de nós e nos manda recados: um jovem que te elege confidente, alguém que tomado de inexplicável urgência resolve juntar amigos que não se viam há anos, o motorista do Uber que te conta uma história triste, uma amiga querida que você encontra de repente e cujo abraço te fortalece, uma vida precocemente interrompida pela dor da exclusão, a brisa que anuncia mais um outono...

Indícios de Vida, chamados para o Ser, convites ao Encontro...

O rio existe e exige entrega, presença e escuta. Não existem receitas e nem roteiros prontos. O caminho se faz ao caminhar como disse o poeta. No entanto, a boa nova precisa ser dada: Há uma outra vida possível!

Cabe a nós, aqueles que sentem o chamado, se fazerem arautos da descoberta. É preciso criar espaços de encontro em qualquer lugar: no elevador, na fila do ônibus ou do caixa do supermercado. É necessário lembrar de olhar nos olhos, de perguntar como o outro está.

É urgente fazer rodas de conversa, saraus, contação de histórias e de preferência, que seja sem muita preparação, quase de improviso mesmo, pra que a forma não seja mais importante que o conteúdo.

É preciso contar sobre o rio!

Jane Hir
Mestra em Educação (UFPR); Professora de língua portuguesa; Especialista em Educação de Jovens e Adultos; Facilitadora de Práticas Restaurativas — Eseje (2017) e SCJR/Coonozco (2018); Especialista em Práticas Restaurativas, com enfoque em Direitos Humanos (PUCPR); Especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e Mindfulness (PUCPR).
Última atualização
23/3/2024 15:40

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Eu e minhas circunstâncias à busca de propósito

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

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