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Opinião

O impacto do encontro de olhares

Reflexões sobre a conexão humana através do olhar e a importância de silenciar ruídos internos para uma comunicação autêntica.Reflexões sobre a conexão humana através do olhar e a importância de silenciar ruídos internos para uma comunicação autêntica.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">“Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus</span> resolvem se encontrar, ai que bom que isso é meu Deus”, fragmento de texto de Vinicius, musicado por Tom Jobim – uma bela canção, que de certa forma ilustra minhas reflexões mais recentes.

A conexão entre dois olhares é potente de tal maneira, que a “luz” é muito razoável como descrição. Um rosto humano solicita a compreensão da singularidade, da coragem e da solidão de cada um de nós neste planeta. Ao nos conectar, inevitavelmente, seremos levados, pela nossa estrutura enquanto espécie, a traduzir as expressões do ser à nossa frente.

Descodificar esta preciosa informação dependerá do quão nosso diálogo interno permite direcionar o cone de atenção para o outro. Muitas vezes, a confusão interna abduz completamente a pessoa e apaga sua luz. O outro perceberá a ausência. O outro perceberá a sombra. O outro sentirá a solidão.

Nos tempos acelerados pela tecnologia, determinar-se a contatos analógicos é um presente para todos os presentes no campo relacional. Biofisiológico, o estar conectado a outra pessoa, nos restaura a nossa essência mais antiga. E depende de escolha consciente.

Muitas vezes não faz parte da nossa bagagem de aprendizados o movimento simultâneo de olhar para o outro apagando o ruído interno. Muitas vezes os contatos produziram dores e cicatrizes. É possível aprender. Temos um potencial poderoso de aprendizado!

Renunciar aos estímulos internos e externos e flexibilizar certezas e dogmas para sintonizar o outro é experimento perigoso por um lado, pois supõe baixar estratégias de proteção e sobrevivência, e, por outro, a intensa experiência de uma comunicação multidimensional é intensa e vivificante.

Por uma pequena fração de tempo ou por tempos continuados, quanto mais silencio, momentaneamente, desejos e necessidades, terei espaço no meu conjunto perceptual para acolher, validar, reconhecer e reagir aos desejos e necessidades do outro – assim abrindo janelas de possibilidades para que o outro, por sua vez, silencie para escutar.

Isso supõe um passo atrás, um passo preparatório – que é reconhecer, acolher e validar os próprios desejos e necessidades para que eles, sôfregos, não invadam o campo de convivência.

Um diálogo sintonizado, olho no olho, analógico é alimento de excepcional qualidade. O tempo Chronos abre espaço para que Kairós se instale, as almas participam do momento, integrando as humanidades, gerando música através das ressonâncias.

A sintonia humana pode minimizar as diferenças. Pode ampliar a compreensão da razão e dos motivos de palavras, gestos, expressões. Pode entender as interlocuções abrasivas, pois se interessará em entender a origem.

Por que acontece pouco?

O ruído ensurdecedor dos diálogos internos, a escassez crônica de amor, as exigências de um tempo pautado pela aceleração. Ainda é necessário considerar as proibições tácitas ou explícitas antigas, recebidas ao longo do desenvolvimento, que cristalizam ou enclausuram a pessoa nas suas armaduras.

Paralelamente, importante considerar o obstáculo concreto do mundo paralelo representado pelas redes sociais, fornecedoras de prazer imediato sem risco emocional no curto prazo. Prevalece o mundo virtual, espécie de Nárnia às avessas, no qual as pessoas se refugiam atrás de inúmeros filtros, se “protegendo” da realidade e do contato olho no olho.

Sempre reitero para mim mesma e para alunos e clientes que “não podemos mudar o mundo”. Sei o quão complexos estão os relacionamentos no nosso planeta. Contudo, poderemos mudar o pequeno mundo à nossa volta, filhos, netos, amores, amigos, equipe... cada um que se sinta bem-vindo no nosso campo relacional e experimente a validação, valorização, reconhecimento e o poder do diálogo sintonizado sentirá desejo de fazer de novo.

Se destes pequeninos movimentos uma criança se sentir acolhida, amada, respeitada – portas e janelas se abrem!

Última atualização
9/4/2024 16:16
Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Opinião

O impacto do encontro de olhares

Reflexões sobre a conexão humana através do olhar e a importância de silenciar ruídos internos para uma comunicação autêntica.Reflexões sobre a conexão humana através do olhar e a importância de silenciar ruídos internos para uma comunicação autêntica.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.
7/4/2024 13:49
Maku de Almeida

Profundidade de olhar no olho revela caminhos para uma conexão mais rica

<span class="abre-texto">“Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus</span> resolvem se encontrar, ai que bom que isso é meu Deus”, fragmento de texto de Vinicius, musicado por Tom Jobim – uma bela canção, que de certa forma ilustra minhas reflexões mais recentes.

A conexão entre dois olhares é potente de tal maneira, que a “luz” é muito razoável como descrição. Um rosto humano solicita a compreensão da singularidade, da coragem e da solidão de cada um de nós neste planeta. Ao nos conectar, inevitavelmente, seremos levados, pela nossa estrutura enquanto espécie, a traduzir as expressões do ser à nossa frente.

Descodificar esta preciosa informação dependerá do quão nosso diálogo interno permite direcionar o cone de atenção para o outro. Muitas vezes, a confusão interna abduz completamente a pessoa e apaga sua luz. O outro perceberá a ausência. O outro perceberá a sombra. O outro sentirá a solidão.

Nos tempos acelerados pela tecnologia, determinar-se a contatos analógicos é um presente para todos os presentes no campo relacional. Biofisiológico, o estar conectado a outra pessoa, nos restaura a nossa essência mais antiga. E depende de escolha consciente.

Muitas vezes não faz parte da nossa bagagem de aprendizados o movimento simultâneo de olhar para o outro apagando o ruído interno. Muitas vezes os contatos produziram dores e cicatrizes. É possível aprender. Temos um potencial poderoso de aprendizado!

Renunciar aos estímulos internos e externos e flexibilizar certezas e dogmas para sintonizar o outro é experimento perigoso por um lado, pois supõe baixar estratégias de proteção e sobrevivência, e, por outro, a intensa experiência de uma comunicação multidimensional é intensa e vivificante.

Por uma pequena fração de tempo ou por tempos continuados, quanto mais silencio, momentaneamente, desejos e necessidades, terei espaço no meu conjunto perceptual para acolher, validar, reconhecer e reagir aos desejos e necessidades do outro – assim abrindo janelas de possibilidades para que o outro, por sua vez, silencie para escutar.

Isso supõe um passo atrás, um passo preparatório – que é reconhecer, acolher e validar os próprios desejos e necessidades para que eles, sôfregos, não invadam o campo de convivência.

Um diálogo sintonizado, olho no olho, analógico é alimento de excepcional qualidade. O tempo Chronos abre espaço para que Kairós se instale, as almas participam do momento, integrando as humanidades, gerando música através das ressonâncias.

A sintonia humana pode minimizar as diferenças. Pode ampliar a compreensão da razão e dos motivos de palavras, gestos, expressões. Pode entender as interlocuções abrasivas, pois se interessará em entender a origem.

Por que acontece pouco?

O ruído ensurdecedor dos diálogos internos, a escassez crônica de amor, as exigências de um tempo pautado pela aceleração. Ainda é necessário considerar as proibições tácitas ou explícitas antigas, recebidas ao longo do desenvolvimento, que cristalizam ou enclausuram a pessoa nas suas armaduras.

Paralelamente, importante considerar o obstáculo concreto do mundo paralelo representado pelas redes sociais, fornecedoras de prazer imediato sem risco emocional no curto prazo. Prevalece o mundo virtual, espécie de Nárnia às avessas, no qual as pessoas se refugiam atrás de inúmeros filtros, se “protegendo” da realidade e do contato olho no olho.

Sempre reitero para mim mesma e para alunos e clientes que “não podemos mudar o mundo”. Sei o quão complexos estão os relacionamentos no nosso planeta. Contudo, poderemos mudar o pequeno mundo à nossa volta, filhos, netos, amores, amigos, equipe... cada um que se sinta bem-vindo no nosso campo relacional e experimente a validação, valorização, reconhecimento e o poder do diálogo sintonizado sentirá desejo de fazer de novo.

Se destes pequeninos movimentos uma criança se sentir acolhida, amada, respeitada – portas e janelas se abrem!

Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.
Última atualização
9/4/2024 16:16

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Eu e minhas circunstâncias à busca de propósito

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

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