Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

O dia após o Dia da Mulher: o que há além das flores e chocolates

Explorando a reflexão sobre datas comemorativas e seu impacto em nossa identidade, com ênfase no Dia da Mulher e na busca pela essência feminina.Explorando a reflexão sobre datas comemorativas e seu impacto em nossa identidade, com ênfase no Dia da Mulher e na busca pela essência feminina.
Arte Cidade Capital
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Adobe Firefly
Jane Hir

<span class="abre-texto">Costumo não dar muita importância às datas</span> comemorativas. Desce que eu era criança, elas me parecem um tanto estranhas: um dia para homenagear os pais, outro para as mães, um dia para lembrar dos indígenas e outro para os livros e assim o calendário nos apresenta a cada mês ideias a serem pensadas...

Como professora, nunca pautei a minha prática docente pelas datas e confesso, até me irritava, às vezes, ao ter que interromper uma sequência didática para incluir o tema imposto por uma data de maior relevância social e não ficar de fora das discussões do grupo.

Não desconsidero a importância dos temas, mas me incomoda a sua delimitação temporal. Compreendo que a contribuição de algumas pessoas e as conquistas de grupos que lutam por reconhecimento devam ser lembradas, mas tenho a impressão de que essa imposição, em um espaço de tempo determinado, esvazia o sentido maior.

Ontem, dia oito de março foi instituído como o Dia Internacional da Mulher e estamos, em nossa grande maioria, escrevendo, lendo e pensando a respeito da mulher. Poemas, cartões, denúncias, reflexões, contos, vivências, homenagens. O meu receio é que essa celebração nos passe a sensação do dever cumprido em relação a esse tema, e que logo em seguida mergulhemos na celebração da próxima data comemorativa, sem que tenhamos desenvolvido a consciência necessária da nossa própria identidade.

E então, nos próximos dias, o que teremos guardado em nós, mulheres, sobre o Dia da Mulher? As flores murcharão em alguns dias, o sabor dos chocolates será apenas lembrança, as palavras bonitas que nos dirão aos poucos serão apagadas pela correria do cotidiano. E o mais sério, é possível que também as denúncias sejam esquecidas.

E continuaremos atônitas e cansadas no cumprimento dos inúmeros papéis que nos foram sendo impostos e que fomos aceitando. Continuaremos sem tempo pra pensar em nós, na faina incessante de uma cultura de produção. Agora, podemos ser o que quisermos, nosso lugar é onde quisermos estar. Essas são palavras bonitas que nos dizem e que nós mesmas nos dizemos, mas que nos impulsionam para o mais fazer...

Esse mais fazer que orientado pela supressão do humano que nos habita tem a cada dia estabelecido metas a cumprir sufocando em todos, homens e mulheres, a possibilidade do encontro real com o outro, única finalidade da nossa tão rápida existência.

Não, eu não quero escrever mais uma exaltação ao gênero feminino, não quero discorrer sobre a nossa singularidade, nossa força, nossa capacidade de amar e de nos doar. Não quero colaborar com a nossa sensação de onipotência. Minha intenção é que este texto seja apenas um abraço carinhoso. Quero que ele chegue a cada mulher como a declaração preciosa do povo de Pandora: Eu vejo você!

Não quero escrever para a profissional competente, a mãe dedicada, a mulher conectada com seu tempo, a militante política, a cuidadora. A todas elas e a muitas outras que existem, o meu profundo respeito... Mas eu quero saudar, neste texto, aquela que talvez nem lembremos mais que existe.

Mas ela existe em nós e despida de todos os papéis emerge nua e linda quando nos olhamos de verdade.

A mulher real que me habita saúda a mulher real que habita em você!

Última atualização
9/3/2024 12:29
Jane Hir
Mestra em Educação (UFPR); Professora de língua portuguesa; Especialista em Educação de Jovens e Adultos; Facilitadora de Práticas Restaurativas — Eseje (2017) e SCJR/Coonozco (2018); Especialista em Práticas Restaurativas, com enfoque em Direitos Humanos (PUCPR); Especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e Mindfulness (PUCPR).

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Opinião

O dia após o Dia da Mulher: o que há além das flores e chocolates

Explorando a reflexão sobre datas comemorativas e seu impacto em nossa identidade, com ênfase no Dia da Mulher e na busca pela essência feminina.Explorando a reflexão sobre datas comemorativas e seu impacto em nossa identidade, com ênfase no Dia da Mulher e na busca pela essência feminina.
Arte Cidade Capital
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Jane Hir
Mestra em Educação (UFPR); Professora de língua portuguesa; Especialista em Educação de Jovens e Adultos; Facilitadora de Práticas Restaurativas — Eseje (2017) e SCJR/Coonozco (2018); Especialista em Práticas Restaurativas, com enfoque em Direitos Humanos (PUCPR); Especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e Mindfulness (PUCPR).
9/3/2024 12:29
Jane Hir

O dia após o Dia da Mulher: o que há além das flores e chocolates

<span class="abre-texto">Costumo não dar muita importância às datas</span> comemorativas. Desce que eu era criança, elas me parecem um tanto estranhas: um dia para homenagear os pais, outro para as mães, um dia para lembrar dos indígenas e outro para os livros e assim o calendário nos apresenta a cada mês ideias a serem pensadas...

Como professora, nunca pautei a minha prática docente pelas datas e confesso, até me irritava, às vezes, ao ter que interromper uma sequência didática para incluir o tema imposto por uma data de maior relevância social e não ficar de fora das discussões do grupo.

Não desconsidero a importância dos temas, mas me incomoda a sua delimitação temporal. Compreendo que a contribuição de algumas pessoas e as conquistas de grupos que lutam por reconhecimento devam ser lembradas, mas tenho a impressão de que essa imposição, em um espaço de tempo determinado, esvazia o sentido maior.

Ontem, dia oito de março foi instituído como o Dia Internacional da Mulher e estamos, em nossa grande maioria, escrevendo, lendo e pensando a respeito da mulher. Poemas, cartões, denúncias, reflexões, contos, vivências, homenagens. O meu receio é que essa celebração nos passe a sensação do dever cumprido em relação a esse tema, e que logo em seguida mergulhemos na celebração da próxima data comemorativa, sem que tenhamos desenvolvido a consciência necessária da nossa própria identidade.

E então, nos próximos dias, o que teremos guardado em nós, mulheres, sobre o Dia da Mulher? As flores murcharão em alguns dias, o sabor dos chocolates será apenas lembrança, as palavras bonitas que nos dirão aos poucos serão apagadas pela correria do cotidiano. E o mais sério, é possível que também as denúncias sejam esquecidas.

E continuaremos atônitas e cansadas no cumprimento dos inúmeros papéis que nos foram sendo impostos e que fomos aceitando. Continuaremos sem tempo pra pensar em nós, na faina incessante de uma cultura de produção. Agora, podemos ser o que quisermos, nosso lugar é onde quisermos estar. Essas são palavras bonitas que nos dizem e que nós mesmas nos dizemos, mas que nos impulsionam para o mais fazer...

Esse mais fazer que orientado pela supressão do humano que nos habita tem a cada dia estabelecido metas a cumprir sufocando em todos, homens e mulheres, a possibilidade do encontro real com o outro, única finalidade da nossa tão rápida existência.

Não, eu não quero escrever mais uma exaltação ao gênero feminino, não quero discorrer sobre a nossa singularidade, nossa força, nossa capacidade de amar e de nos doar. Não quero colaborar com a nossa sensação de onipotência. Minha intenção é que este texto seja apenas um abraço carinhoso. Quero que ele chegue a cada mulher como a declaração preciosa do povo de Pandora: Eu vejo você!

Não quero escrever para a profissional competente, a mãe dedicada, a mulher conectada com seu tempo, a militante política, a cuidadora. A todas elas e a muitas outras que existem, o meu profundo respeito... Mas eu quero saudar, neste texto, aquela que talvez nem lembremos mais que existe.

Mas ela existe em nós e despida de todos os papéis emerge nua e linda quando nos olhamos de verdade.

A mulher real que me habita saúda a mulher real que habita em você!

Jane Hir
Mestra em Educação (UFPR); Professora de língua portuguesa; Especialista em Educação de Jovens e Adultos; Facilitadora de Práticas Restaurativas — Eseje (2017) e SCJR/Coonozco (2018); Especialista em Práticas Restaurativas, com enfoque em Direitos Humanos (PUCPR); Especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e Mindfulness (PUCPR).
Última atualização
9/3/2024 12:29

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Eu e minhas circunstâncias à busca de propósito

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

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