Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Morte, vela, sentinela sou!

Reflexão sobre a morte e o luto através da perda de um amigo, inspirado na música de Milton Nascimento.Reflexão sobre a morte e o luto através da perda de um amigo, inspirado na música de Milton Nascimento.
Arte Cidade Capital
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">A morte chega como um susto</span>, acorda lembranças e avisa da finitude. Tal como passos estabanados em um espelho d’água, traz à tona sedimentos invisíveis, tangibiliza as vulnerabilidades, em cada uma das suas dimensões.

Quando se vai um amigo, depois da negação, a interrupção acontece e parece um corte de navalha. Se é alguém com quem partilhamos territórios imensos dos nossos pensares e a chama dos sonhos e ideais, a dor é fina como cristal e segue, linha contínua, ao longo dos dias e noites. Ininterruptamente.

Ainda quando, na contaminação do pensamento, que presume vida eterna, tratamos o tempo com a sem cerimônia dos estoques infinitos, seguimos sem dar a relevância necessária aos encontros. A morte vem lembrar que não! Não! A última vez, o último abraço, a última conversa de pé ao ouvido – poderíamos ter esticado mais... Poderíamos.

Ocorre no momento em que se vai um amigo, que abrigava em seu corpo experimentado uma criança vibrante, a luz do mundo fraqueja por um tempo.

E a natureza daqui do meu canto ficou mesmo cinza. E fria. De aperto no coração a uma falha na respiração, vou encontrar conversas longas nos guardados. Algumas de faz tempo, outras de outro dia mesmo. E as escuto, como criança. Repito e repito na minha memória. Para registrar bem fundo a integridade do seu ser no mundo.

Divido com você, leitor, o estranhamento que é a dor gerada pela morte de um amigo. Vitor, querido amigo, vou pedir emprestado a Milton Nascimento a poesia para ornamentar nosso adeus. E certo é que nossos olhares irão se cruzar em alguma dimensão, com a compreensão das almas irmãs.

Sentinela (Milton Nascimento)

Longe, longe, ouço essavoz
Que o tempo não vai levar

Morte, vela, sentinelasou
Do corpo desse meu irmão que já se vai
Revejo nessa hora tudo que ocorreu
Memória não morrerá

Vulto negro em meu rumovem
Mostrar a sua dor plantada nesse chão
Seu rosto brilha em reza, brilha em faca e flor
Histórias vem me contar

Longe, longe, ouço essavoz
Que o tempo não vai levar

Precisa gritar suaforça, ê irmão, sobreviver
A morte ainda não vai chegar
Se a gente na hora de unir os caminhos num só
Não fugir, nem se desviar 

Precisa amar sua amiga,ê irmão, e relembrar
Que o mundo só vai se curvar
Quando o amor que em seu corpo já nasceu
Liberdade buscar na mulher que você encontrar

Morte, vela, sentinelasou
Do corpo desse meu irmão que já se foi
Revejo nessa hora tudo que aprendi
Memória não morrerá

Longe, longe, ouço essavoz
Que o tempo não levará
Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não levará

Última atualização
24/3/2024 18:06
Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Opinião

Morte, vela, sentinela sou!

Reflexão sobre a morte e o luto através da perda de um amigo, inspirado na música de Milton Nascimento.Reflexão sobre a morte e o luto através da perda de um amigo, inspirado na música de Milton Nascimento.
Arte Cidade Capital
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.
24/3/2024 18:04
Maku de Almeida

Despedida fina como cristal marca a perda de um amigo

<span class="abre-texto">A morte chega como um susto</span>, acorda lembranças e avisa da finitude. Tal como passos estabanados em um espelho d’água, traz à tona sedimentos invisíveis, tangibiliza as vulnerabilidades, em cada uma das suas dimensões.

Quando se vai um amigo, depois da negação, a interrupção acontece e parece um corte de navalha. Se é alguém com quem partilhamos territórios imensos dos nossos pensares e a chama dos sonhos e ideais, a dor é fina como cristal e segue, linha contínua, ao longo dos dias e noites. Ininterruptamente.

Ainda quando, na contaminação do pensamento, que presume vida eterna, tratamos o tempo com a sem cerimônia dos estoques infinitos, seguimos sem dar a relevância necessária aos encontros. A morte vem lembrar que não! Não! A última vez, o último abraço, a última conversa de pé ao ouvido – poderíamos ter esticado mais... Poderíamos.

Ocorre no momento em que se vai um amigo, que abrigava em seu corpo experimentado uma criança vibrante, a luz do mundo fraqueja por um tempo.

E a natureza daqui do meu canto ficou mesmo cinza. E fria. De aperto no coração a uma falha na respiração, vou encontrar conversas longas nos guardados. Algumas de faz tempo, outras de outro dia mesmo. E as escuto, como criança. Repito e repito na minha memória. Para registrar bem fundo a integridade do seu ser no mundo.

Divido com você, leitor, o estranhamento que é a dor gerada pela morte de um amigo. Vitor, querido amigo, vou pedir emprestado a Milton Nascimento a poesia para ornamentar nosso adeus. E certo é que nossos olhares irão se cruzar em alguma dimensão, com a compreensão das almas irmãs.

Sentinela (Milton Nascimento)

Longe, longe, ouço essavoz
Que o tempo não vai levar

Morte, vela, sentinelasou
Do corpo desse meu irmão que já se vai
Revejo nessa hora tudo que ocorreu
Memória não morrerá

Vulto negro em meu rumovem
Mostrar a sua dor plantada nesse chão
Seu rosto brilha em reza, brilha em faca e flor
Histórias vem me contar

Longe, longe, ouço essavoz
Que o tempo não vai levar

Precisa gritar suaforça, ê irmão, sobreviver
A morte ainda não vai chegar
Se a gente na hora de unir os caminhos num só
Não fugir, nem se desviar 

Precisa amar sua amiga,ê irmão, e relembrar
Que o mundo só vai se curvar
Quando o amor que em seu corpo já nasceu
Liberdade buscar na mulher que você encontrar

Morte, vela, sentinelasou
Do corpo desse meu irmão que já se foi
Revejo nessa hora tudo que aprendi
Memória não morrerá

Longe, longe, ouço essavoz
Que o tempo não levará
Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não levará

Maku de Almeida
Analista transacional. Escreve aos domingos.
Última atualização
24/3/2024 18:06

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Eu e minhas circunstâncias à busca de propósito

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

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