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Opinião

Gravura e colapso ambiental: Antropoceno e Capitaloceno

Reflexões sobre os impactos do colapso ambiental na sociedade.Reflexões sobre os impactos do colapso ambiental na sociedade.
Arthur Jafa
/
Frame do vídeo do artista Arthur Jafa, Amor é a mensagem, a mensagem é morte, 2016. Fonte: Arthur Jafa - The Douglas Hyde Gallery.
Gracon

Em 2009, pesquisadores do Stockholm Resilience Center identificaram 9 limites planetários, além dos quais o sistema Terra não mais resguardaria as condições seguras para a humanidade e para outras espécies. Na atualização de 2023, já havíamos ultrapassado 6 dos 9 limites.

As sucessivas Conferências das Partes (COP) e os Relatórios de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ambos ligados à ONU, vêm repetindo às lideranças políticas do Norte e do Sul global que é necessário zerar as emissões de carbono e o desmatamento imediatamente, ou seja, reduzir de forma drástica o consumo de energia fóssil, bem como preservar e restaurar as áreas de floresta da ação da agricultura e pecuária industriais. Do contrário, a temperatura média da Terra pode chegar a 2°C acima do período pré-industrial (1850-1900) já na segunda metade deste século, o que implica em perda ainda maior da biodiversidade, muito mais pessoas expostas a estresse térmico e desertificação, maior insegurança alimentar, aumento da área de queimadas e da frequência e intensidade de ondas de calor, aumento de inundações e do nível do mar e desaparecimento dos recifes de corais. 

Neste texto, a primeira parte de um artigo dividido em três, reflito sobre as razões do colapso ambiental em curso e apresento conceitos que nos ajudam a pensar sobre ele, como Antropoceno e Capitaloceno. A ideia é preparar o terreno para abordarmos, nas semanas seguintes, a relação da arte contemporânea, em especial a gravura, com questões ambientais.

Por que os seres humanos – criaturas absolutamente insignificantes há 70.000 anos atrás – se tornaram a espécie dominante no planeta Terra? Em uma de suas palestras, o historiador e autor do best-seller Sapiens, Yuval Harari, propõe duas razões. Primeiro, a capacidade de cooperar com flexibilidade em grandes grupos. Mas como é possível cooperar nessa escala? A resposta o leva à segunda razão: a capacidade de criar e acreditar em realidades fictícias, para além da realidade objetiva ou natureza. Os exemplos que ele dá para explicar o que seriam essas ficções são: instituições (família, escola, igreja, Estado, nação, etc.), deuses (religião), corporações e dinheiro (sistema econômico). O dinheiro, por exemplo, não tem valor intrínseco, mas agregado por um pacto ficcional coletivo (a nota de 50 reais não vale, em si mesma, 50 reais). 

O conceito de ficção que ele usa foi questionado por acadêmicos, que afirmam que chamar indiscriminadamente dinheiro e deuses de “crenças” é pouco rigoroso — significa confundir convenção e mito, ou seja, confundir um acordo baseado na racionalidade prática com uma fábula baseada em afetos irracionais. A convenção, contudo, não deixa de ter um aspecto ficcional, como os mitos, em especial pelo que guarda de arbitrário, pois é possível criar diferentes convenções com o mesmo propósito.

O ponto é que sobrepusemos ficções (ou, como querem os críticos de Harari, convenções sociais e narrativas mitológicas) ao mundo físico ao nosso redor — às plantas, aos outros animais e aos ecossistemas que configuram. A questão, contudo, não é abolir o mundo simbólico de nossa experiência cotidiana. Ao contrário, o que Harari está dizendo indiretamente nessa palestra é que não somos seres capazes de viver sem ficções. A questão é em quais ficções escolhemos acreditar e pelas quais cooperamos. 

O antropólogo Philipe Descolas, que ao lado do filósofo Bruno Latour lidera uma “virada ontológica” nas Ciências Humanas francesas com repercussões importantes no campo da Ecologia, acrescentaria que o principal problema dessas “realidades fictícias” que Harari descreve é que elas têm como fundamento a separação entre natureza e cultura. Quando, por exemplo, dizemos que cultura é só o que o ser humano faz, excluindo o que a natureza faz, nós, mesmo sendo parte da natureza, nos distanciamos dela. Descolas e Latour defendem que precisamos de uma nova ontologia, ou seja, uma nova maneira de representar o mundo para nós mesmos, se quisermos sair de uma posição patronal e utilitarista que vê a natureza como matéria neutra a ser dominada e moldada, infinitamente ao nosso dispor.

Cartaz da exposição Nós, as árvores (Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, Paris, 2018) com reprodução de fotografia de Sebastián Mejía, da série Quasi Oasis 17, Santiago du Chili (2012). Fonte: acervo da autora.

Alguns cientistas defendem que vivemos em uma nova era geológica, chamada de Antropoceno. A sociedade, como a conhecemos hoje, só se tornou possível porque há 11.700 anos, durante o Holoceno, a temperatura se estabilizou na Terra. Esses cientistas propõem que, depois do Holoceno, teve início o Antropoceno, a “era do humano”. O termo, cunhado em 2000, se popularizou em 2002, com a publicação de um artigo do meteorologista e químico Paul Crutzen na revista Nature. Crutzen, que integrou o Grupo de Trabalho do Antropoceno, afirma que o impacto da atividade humana sobre o sistema Terra nos últimos três séculos, ou seja, desde a Revolução Industrial, teve a mesma magnitude de mudanças geológicas ocorridas durante milênios. A partir do pós-guerra (1945), essas alterações se intensificaram, levando ao que Crutzen chamou de “a grande aceleração”. O ano de 1950, tornou-se, então, o principal marcador temporal para o início do Antropoceno. Mas o debate em torno dessa nova era geológica ainda não terminou.

Uýra Sodoma, Ensaio Boiúna, da série Mil (Quase) Mortos (2019). Em trecho poluído do igarapé do Mindu, em Manaus, a artista realiza performance em que se transforma na grande cobra das águas amazônicas. Fonte: Uýra Sodoma: a cobra das águas amazônicas diante da degradação ambiental - Revista seLecT_ceLesTe

No campo das Ciências Humanas, o termo “Antropoceno” foi questionado, com base na pergunta: o que significa esse humano presente na palavra de origem grega antropos? Seriam todos os seres humanos, incluindo eu e você, igualmente responsáveis pela degradação ambiental e pela extinção em massa de outras espécies? O ativista e geógrafo Andreas Malm, seguido pelo historiador ambiental Jason Moore, consideram que não é propriamente o ser humano, em seu conjunto, mas sim o capital – dinheiro investido que gera mais dinheiro, que é reinvestido etc. – que está na raiz dessas mudanças. Eles cunharam, então, o termo “Capitaloceno”, cuja vantagem é mostrar contra o que precisamos lutar, enquanto o termo “Antropoceno” apenas aponta para uma conjuntura.

Projeção do vídeo Voyeurístico (2018), de Jonathas de Andrade, que mostra em câmera lenta mãos anônimas acariciando notas de dinheiro. O artista disponibilizou um trecho em: Voyeurístico (fragmento) on Vimeo

Muitos autores, entre eles o historiador da Unicamp, Luiz Marques, já demonstraram a estreita conexão entre o sistema de produção capitalista e o colapso ambiental. E também como a ideia de “sustentabilidade” ou “economia verde” – haja vista os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), que têm pautado a maioria dos editais de fomento à pesquisa e à cultura – funciona dentro da lógica do capital, ou seja, a lógica da expansão, da concorrência, da acumulação e do lucro, que é justamente aquela que levou à situação atual. Como escreve o jornalista e analista político Raúl Zibechi:

“O capitalismo estaria promovendo uma ‘transição energética’, para consolidar o capitalismo, em um período de crise e caos climático que pode ameaçar a sua legitimidade. Assim, opera da mesma forma que faz diante dos questionamentos ao patriarcado e ao colonialismo: buscando se legitimar com supostas políticas contra o machismo e o racismo, aparentando que o sistema compartilha aspectos das lutas feministas e dos povos oprimidos, com o objetivo de moldar um pequeno setor de fieis que se inserem no topo da pirâmide do sistema. (...) Grande parte do poder do sistema hoje está colocado na promoção de um ambientalismo que não questione o capitalismo, com os mais diversos nomes (incluindo mineração ‘verde’ ou sustentável), para convencer os ambientalistas de que precisam acreditar em políticas progressistas.”

Nesse sentido, precisamos ter consciência de que não há saída efetiva para o colapso ambiental em curso dentro do capitalismo. Vivendo as consequências da colonização e de apagamentos de culturas nativas capazes de nos apontar um caminho, ainda não conseguimos criar e experimentar com êxito uma ficção à altura desta que hoje organiza a nossa vida em sociedade. O que a arte pode fazer com relação a isso? A minha resposta, vocês conferem no texto desta coluna da semana que vem.

Desenhos da floresta tropical feitos por Abel Rodriguez, nascido entre os Nonuya na Amazônia colombiana, expostos na 34ª Bienal de São Paulo (2021). Fonte: http://34.bienal.org.br/artistas/7345

Por Luciana Lourenço Paes.

Última atualização
21/3/2024 9:12
Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Opinião

Gravura e colapso ambiental: Antropoceno e Capitaloceno

Reflexões sobre os impactos do colapso ambiental na sociedade.Reflexões sobre os impactos do colapso ambiental na sociedade.
Arthur Jafa
/
Frame do vídeo do artista Arthur Jafa, Amor é a mensagem, a mensagem é morte, 2016. Fonte: Arthur Jafa - The Douglas Hyde Gallery.
Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
15/3/2024 9:39
Gracon

Gravura e colapso ambiental: Antropoceno e Capitaloceno

Em 2009, pesquisadores do Stockholm Resilience Center identificaram 9 limites planetários, além dos quais o sistema Terra não mais resguardaria as condições seguras para a humanidade e para outras espécies. Na atualização de 2023, já havíamos ultrapassado 6 dos 9 limites.

As sucessivas Conferências das Partes (COP) e os Relatórios de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ambos ligados à ONU, vêm repetindo às lideranças políticas do Norte e do Sul global que é necessário zerar as emissões de carbono e o desmatamento imediatamente, ou seja, reduzir de forma drástica o consumo de energia fóssil, bem como preservar e restaurar as áreas de floresta da ação da agricultura e pecuária industriais. Do contrário, a temperatura média da Terra pode chegar a 2°C acima do período pré-industrial (1850-1900) já na segunda metade deste século, o que implica em perda ainda maior da biodiversidade, muito mais pessoas expostas a estresse térmico e desertificação, maior insegurança alimentar, aumento da área de queimadas e da frequência e intensidade de ondas de calor, aumento de inundações e do nível do mar e desaparecimento dos recifes de corais. 

Neste texto, a primeira parte de um artigo dividido em três, reflito sobre as razões do colapso ambiental em curso e apresento conceitos que nos ajudam a pensar sobre ele, como Antropoceno e Capitaloceno. A ideia é preparar o terreno para abordarmos, nas semanas seguintes, a relação da arte contemporânea, em especial a gravura, com questões ambientais.

Por que os seres humanos – criaturas absolutamente insignificantes há 70.000 anos atrás – se tornaram a espécie dominante no planeta Terra? Em uma de suas palestras, o historiador e autor do best-seller Sapiens, Yuval Harari, propõe duas razões. Primeiro, a capacidade de cooperar com flexibilidade em grandes grupos. Mas como é possível cooperar nessa escala? A resposta o leva à segunda razão: a capacidade de criar e acreditar em realidades fictícias, para além da realidade objetiva ou natureza. Os exemplos que ele dá para explicar o que seriam essas ficções são: instituições (família, escola, igreja, Estado, nação, etc.), deuses (religião), corporações e dinheiro (sistema econômico). O dinheiro, por exemplo, não tem valor intrínseco, mas agregado por um pacto ficcional coletivo (a nota de 50 reais não vale, em si mesma, 50 reais). 

O conceito de ficção que ele usa foi questionado por acadêmicos, que afirmam que chamar indiscriminadamente dinheiro e deuses de “crenças” é pouco rigoroso — significa confundir convenção e mito, ou seja, confundir um acordo baseado na racionalidade prática com uma fábula baseada em afetos irracionais. A convenção, contudo, não deixa de ter um aspecto ficcional, como os mitos, em especial pelo que guarda de arbitrário, pois é possível criar diferentes convenções com o mesmo propósito.

O ponto é que sobrepusemos ficções (ou, como querem os críticos de Harari, convenções sociais e narrativas mitológicas) ao mundo físico ao nosso redor — às plantas, aos outros animais e aos ecossistemas que configuram. A questão, contudo, não é abolir o mundo simbólico de nossa experiência cotidiana. Ao contrário, o que Harari está dizendo indiretamente nessa palestra é que não somos seres capazes de viver sem ficções. A questão é em quais ficções escolhemos acreditar e pelas quais cooperamos. 

O antropólogo Philipe Descolas, que ao lado do filósofo Bruno Latour lidera uma “virada ontológica” nas Ciências Humanas francesas com repercussões importantes no campo da Ecologia, acrescentaria que o principal problema dessas “realidades fictícias” que Harari descreve é que elas têm como fundamento a separação entre natureza e cultura. Quando, por exemplo, dizemos que cultura é só o que o ser humano faz, excluindo o que a natureza faz, nós, mesmo sendo parte da natureza, nos distanciamos dela. Descolas e Latour defendem que precisamos de uma nova ontologia, ou seja, uma nova maneira de representar o mundo para nós mesmos, se quisermos sair de uma posição patronal e utilitarista que vê a natureza como matéria neutra a ser dominada e moldada, infinitamente ao nosso dispor.

Cartaz da exposição Nós, as árvores (Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, Paris, 2018) com reprodução de fotografia de Sebastián Mejía, da série Quasi Oasis 17, Santiago du Chili (2012). Fonte: acervo da autora.

Alguns cientistas defendem que vivemos em uma nova era geológica, chamada de Antropoceno. A sociedade, como a conhecemos hoje, só se tornou possível porque há 11.700 anos, durante o Holoceno, a temperatura se estabilizou na Terra. Esses cientistas propõem que, depois do Holoceno, teve início o Antropoceno, a “era do humano”. O termo, cunhado em 2000, se popularizou em 2002, com a publicação de um artigo do meteorologista e químico Paul Crutzen na revista Nature. Crutzen, que integrou o Grupo de Trabalho do Antropoceno, afirma que o impacto da atividade humana sobre o sistema Terra nos últimos três séculos, ou seja, desde a Revolução Industrial, teve a mesma magnitude de mudanças geológicas ocorridas durante milênios. A partir do pós-guerra (1945), essas alterações se intensificaram, levando ao que Crutzen chamou de “a grande aceleração”. O ano de 1950, tornou-se, então, o principal marcador temporal para o início do Antropoceno. Mas o debate em torno dessa nova era geológica ainda não terminou.

Uýra Sodoma, Ensaio Boiúna, da série Mil (Quase) Mortos (2019). Em trecho poluído do igarapé do Mindu, em Manaus, a artista realiza performance em que se transforma na grande cobra das águas amazônicas. Fonte: Uýra Sodoma: a cobra das águas amazônicas diante da degradação ambiental - Revista seLecT_ceLesTe

No campo das Ciências Humanas, o termo “Antropoceno” foi questionado, com base na pergunta: o que significa esse humano presente na palavra de origem grega antropos? Seriam todos os seres humanos, incluindo eu e você, igualmente responsáveis pela degradação ambiental e pela extinção em massa de outras espécies? O ativista e geógrafo Andreas Malm, seguido pelo historiador ambiental Jason Moore, consideram que não é propriamente o ser humano, em seu conjunto, mas sim o capital – dinheiro investido que gera mais dinheiro, que é reinvestido etc. – que está na raiz dessas mudanças. Eles cunharam, então, o termo “Capitaloceno”, cuja vantagem é mostrar contra o que precisamos lutar, enquanto o termo “Antropoceno” apenas aponta para uma conjuntura.

Projeção do vídeo Voyeurístico (2018), de Jonathas de Andrade, que mostra em câmera lenta mãos anônimas acariciando notas de dinheiro. O artista disponibilizou um trecho em: Voyeurístico (fragmento) on Vimeo

Muitos autores, entre eles o historiador da Unicamp, Luiz Marques, já demonstraram a estreita conexão entre o sistema de produção capitalista e o colapso ambiental. E também como a ideia de “sustentabilidade” ou “economia verde” – haja vista os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), que têm pautado a maioria dos editais de fomento à pesquisa e à cultura – funciona dentro da lógica do capital, ou seja, a lógica da expansão, da concorrência, da acumulação e do lucro, que é justamente aquela que levou à situação atual. Como escreve o jornalista e analista político Raúl Zibechi:

“O capitalismo estaria promovendo uma ‘transição energética’, para consolidar o capitalismo, em um período de crise e caos climático que pode ameaçar a sua legitimidade. Assim, opera da mesma forma que faz diante dos questionamentos ao patriarcado e ao colonialismo: buscando se legitimar com supostas políticas contra o machismo e o racismo, aparentando que o sistema compartilha aspectos das lutas feministas e dos povos oprimidos, com o objetivo de moldar um pequeno setor de fieis que se inserem no topo da pirâmide do sistema. (...) Grande parte do poder do sistema hoje está colocado na promoção de um ambientalismo que não questione o capitalismo, com os mais diversos nomes (incluindo mineração ‘verde’ ou sustentável), para convencer os ambientalistas de que precisam acreditar em políticas progressistas.”

Nesse sentido, precisamos ter consciência de que não há saída efetiva para o colapso ambiental em curso dentro do capitalismo. Vivendo as consequências da colonização e de apagamentos de culturas nativas capazes de nos apontar um caminho, ainda não conseguimos criar e experimentar com êxito uma ficção à altura desta que hoje organiza a nossa vida em sociedade. O que a arte pode fazer com relação a isso? A minha resposta, vocês conferem no texto desta coluna da semana que vem.

Desenhos da floresta tropical feitos por Abel Rodriguez, nascido entre os Nonuya na Amazônia colombiana, expostos na 34ª Bienal de São Paulo (2021). Fonte: http://34.bienal.org.br/artistas/7345

Por Luciana Lourenço Paes.

Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Última atualização
21/3/2024 9:12

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Eu e minhas circunstâncias à busca de propósito

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

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