Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Em entrevista, Renato Torres conta quais são os próximos projetos do Gracon

Todas as sextas-feiras, a partir de hoje, o Grupo de Pesquisa em Gravura Contemporânea (GRACON), da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de CuritibTodas as sextas-feiras, a partir de hoje, o Grupo de Pesquisa em Gravura Contemporânea (GRACON), da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de Curitib
Renato Torres
/
Acervo pessoal
Renato Torres, “Ap100621”, Linóleogravura, 50,2 x 64,8 cm, 2021.
Gracon

Todas as sextas-feiras, a partir de hoje (3), o Grupo de Pesquisa em Gravura Contemporânea (Gracon), da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Curitiba I, publicará uma coluna nesta plataforma. Para abrir o projeto, que contará com um texto ou imagem de um dos participantes do grupo a cada semana, realizamos uma entrevista com o seu coordenador, o professor, pesquisador e artista Renato Torres.

Gravura é um conjunto de técnicas de reprodução de imagem. De acordo com a natureza da matriz, as técnicas podem ser classificadas em xilogravura (sobre madeira), linoleogravura (sobre borracha), calcogravura (sobre metal), litogravura (sobre pedra) e serigrafia (sobre tela de seda). Tecnologias mais recentes incluem as diferentes formas de reprodução mecânica, desde a fotografia até a máquina de xerox e as impressoras domésticas, que seguem a mesma lógica de multiplicação a partir de uma matriz, seja ela física ou digital. Atualmente, todas estas técnicas – sejam as mais tradicionais dentro do campo da arte, sejam as mais comerciais ou industriais – têm sido usadas por artistas.  

Em Curitiba, particularmente, a gravura tem uma história bem consolidada, graças à atividade de ateliês públicos, como o Solar do Barão e o antigo Centro de Criatividade, bem como de cursos extensionistas oferecidos pelas universidades públicas. Além disso, a cidade foi sede de mostras especializadas em gravura desde o fim dos anos 1970 até o início dos 2000. Durante a entrevista, Renato Torres fala sobre o passado e o presente dessa cena local, sobre o seu próprio trabalho em gravura, vinculado a ela, e também sobre sua atuação como professor e pesquisador, a partir da qual nasceu o GRACON.

Luciana: Fale um pouco sobre a gravura na sua trajetória profissional.

Renato: Eu concluí a graduação em Gravura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em 2000. No ano seguinte, comecei a frequentar a oficina permanente de gravura na UFPR, sob coordenação da Dulce Osinski e do Ricardo Carneiro. Neste ano, trabalhei em uma única matriz de gravura em metal, explorando as técnicas de água-tinta e água-forte. Não se tratava de experimentar a técnica, mas de se concentrar para encontrar uma linguagem própria. Em 2002, tive a oportunidade de lecionar gravura para os Cursos de Bacharelado e Licenciatura da Universidade Tuiuti do Paraná. Diante dessa oportunidade, passei a conciliar a docência na Educação Superior com a produção artística.

A gravura foi a técnica principal utilizada em minhas produções. Normalmente, procuro escolher a técnica de acordo com o que me proponho a investigar em cada projeto poético, e por vezes, me permito explorar outras linguagens, como o desenho, a pintura ou mesmo a fotografia [que não deixa de ser uma forma de gravura]. Mas se pensar em volume de produção tenho trabalhado bastante com o linóleo, a serigrafia, a xilogravura e a gravura em metal. A paisagem é uma temática recorrente em meus trabalhos, mas sempre em diálogo com a linguagem da gravura. Meu trabalho é lento, passo alguns anos em cada série. 

Em paralelo, na Educação Superior, sempre trabalhei com coletivos. Inicialmente frequentando o grupo de gravadores da UFPR, depois organizando grupos por onde passei, como: o Grupo Papel, na Universidade Tuiuti do Paraná, de 2006 a 2011; o Grupo Grimpa, de 2015 a 2020, na Universidade Estadual de Ponta Grossa; e agora o GRACON, na Universidade Estadual do Paraná, campus Curitiba I, desde 2021. Em muitos momentos os projetos individuais se misturavam e se contaminavam com a dedicação e com a empolgação dos participantes dos coletivos. Não consigo me ver produzindo somente de forma isolada, a troca é muito importante para o meu processo de criação.

Luciana: O que é o GRACON?

Renato: A sigla GRACON significa Gravura Contemporânea. É um grupo de pesquisa científica registrado no CNPq, com o nome “Gravura Contemporânea: reflexões e processo de criação” e certificado pela UNESPAR. Gravura Contemporânea se trata de um grupo que estuda e produz gravuras em diálogo com as questões da sociedade contemporânea. A técnica pode ser tradicional, como a xilogravura por exemplo, mas a linguagem dialoga com a arte contemporânea. 

Luciana: Quem pode participar do GRACON?

Renato: Qualquer pessoa interessada pela gravura, seja pela produção, pelo ensino, pela história ou pela pesquisa sobre artistas gravadores. 

Normalmente ex-alunos de Artes Visuais procuram o GRUPO, mas não precisa ter graduação em Artes Visuais e nem mesmo ser graduado. Basta ter interesse pelo assunto.

Oficina aberta de xilogravura realizada por ocasião da exposição A pele da terra, com gravuras de participantes do Gracon, no Museu Alfredo Andersen, Curitiba, 2023.

Luciana: Como você avalia a cena da gravura hoje, em Curitiba, em relação ao seu período de formação?

Renato: Durante meu período de formação, aconteciam as Mostras de Gravura Cidade de Curitiba e o Solar do Barão tinha um destaque nacional como complexo cultural dedicado à gravura. Foi um período muito importante para ampliar meu conhecimento sobre as artes gráficas, pois tínhamos contato com artistas consolidados, com jovens artistas e com uma discussão muito forte sobre a gravura como parte das discussões da arte contemporânea. Até hoje, quando estou em eventos fora de Curitiba, me perguntam como estão as atividades no Solar do Barão. Ouvi muitos depoimentos de artistas que participaram das Mostras de Gravura.

Quanto à gravura hoje, percebo que o poder público do Paraná não tem investido em eventos como na época das Mostras. Todavia, as feiras gráficas, em geral organizadas pela iniciativas privadas, estão acontecendo em todo país. Isso mostra uma produção emergente, de jovens artistas que têm se dedicado à gravura. Ainda não é possível verificar a qualidade desses trabalhos, ou se um ou outro artista terá destaque, mas já sinaliza um movimento crescente que está abarcando as gravuras tradicionais, os impressos em geral, as publicações de artistas e os múltiplos. Algumas feiras estão concentradas em produções artísticas e outras abertas a outras categorias. Tem novos colecionadores surgindo também, aproveitando as feiras para começar suas coleções com um custo razoável.

Luciana Você fez uma individual recentemente em Castro. Pode falar um pouco sobre a exposição?

Renato: Recentemente fiz a exposição intitulada "Apanhador de Sonhos", em Castro. A exposição teve como proposta refletir sobre o conceito de paisagem urbana através de um conjunto de obras de arte, desenvolvidas em diversas técnicas, como: xilogravura, água-forte e água-tinta, linóleo, serigrafia, nanquim e pintura. Procurei manter uma estética aproximada independente da técnica.  

Nesses trabalhos optei por criar paisagens noturnas, o que deixa a imagem um pouco mais complexa e enigmática, pois, implica no enfrentamento de certa ambiguidade simbólica. A luz que encanta se coloca ao lado da escuridão que gera medo e insegurança. Portanto, a percepção das imagens pode oscilar de um encantamento até uma repulsa.  

Somam-se a essas questões as decisões tomadas durante o processo de criação, que em diversos momentos flerta com a abstração, ou melhor, com composições menos preocupadas com uma representação fiel da realidade, mas comprometidas com a construção de uma linguagem estética própria, que simplifica as imagens e gera, em alguns momentos, formas ficcionais e espaços urbanos imaginários.

Renato Torres, “Na margem de lá”, nanquim sobre papel algodão, 50 X 65 cm (cada folha), 2017.

Luciana: Por que, na arte contemporânea, ainda faz sentido falar em uma linguagem específica, como a da gravura?

Renato: Acredito que o artista se identifica com uma ou com várias linguagens e devido a sua insistência, ele a domina e começa a criar. Também acho produtivo que o artista se entregue ao projeto poético que se propõe e procure encontrar a linguagem que mais se integre à poética de suas pesquisas visuais. Não acho interessante manter uma fidelidade à técnica, mas busco a melhor maneira de desenvolver um trabalho artístico. 

Se considerarmos a gravação como processo de pensamento, como indica Marco Buti ou mesmo Richard Sennett ao escrever O artífice (2008), perceberemos que toda artesania da gravura poderá estar em diálogo com a Arte Contemporânea.

Nesse sentido, precisamos ampliar o conceito de gravura e pensar que tanto as técnicas tradicionais de gravura quanto seus desdobramentos dialogarão com o tempo presente e, portanto, a tentativa de compreender essas mudanças e mesmo como a gravura aparece na produção contemporânea, justifica falar em uma linguagem específica.

Luciana: Quais artistas foram importantes para o desenvolvimento do seu trabalho?

Renato: É um pouco difícil elencar quais artistas foram mais importantes. Mas vamos lá. Sempre gostei dos modernos e dos contemporâneos. A obra de Goeldi sempre me chamou atenção pela maneira como ele trabalhou as cenas noturnas, os becos e os moribundos. Maria Bonomi sempre me surpreendeu, com destaque para a dimensão com que ela trabalha suas gravuras. Gil Vicente me chama atenção pela maneira contemporânea como trabalha a linguagem do desenho, sobretudo com o nanquim e o grafite. Daniel Senise, Nuno Ramos, Ernesto Neto, Vergara, Laurita Salles, Evandro Carlos Jardim, Regina Silveira, Helena Kanaan, entre outros, são artistas que sempre me fazem repensar os modos de produção em arte e me motivam a produzir. Sigmar Polke, Robert Rauschenberg, Robert Motherwell, Antoni Tapiès, Anselm Kiefer, John Baldessari e Julian Schnabel me ajudam a pensar sobre o gesto, sobre a obra/objeto, sobre a apropriação de imagem e sobre os processos de impressão em obras híbridas.

Luciana: Qual texto sobre gravura te marcou?

Renato: “Os desdobramentos da gravura contemporânea” de Ricardo Resende e “O ethos da edição” de Susan Tallman.

Luciana: Quais os próximos projetos do GRACON?

Renato: Estamos trabalhando no projeto “Gravuras em grandes formatos” e na publicação do livro “A gravura em pesquisa”, com previsão para publicação entre o final de 2023 e início de 2024.

Por Luciana Lourenço Paes.

Última atualização
17/11/2023 10:21
Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

Mortes por PMs quase dobram no início de 2024, em São Paulo

Mortes por PMs quase dobram no início de 2024, em São Paulo

Redação Cidade Capital
26/7/2024 10:02

O número de mortes causadas por policiais militares no estado de São Paulo quase dobraram em relação ao primeiro semestre de 2023. Neste ano, foram registrados 296 óbitos, contra 154 no mesmo período do ano passado.

As operações policiais na Baixada Santista, como a Operação Escudo e a Operação Verão, são apontadas como fatores para o aumento da violência policial.

Decisões diárias e reflexões sobre o caos interno

Decisões diárias e reflexões sobre o caos interno

Carolina Schmitz da Silva
26/7/2024 9:27

Nesses últimos dias, meu diálogo interno teve entusiasmadas e atrapalhadas conversas, diante de momentos de puro prazer e outros de tormenta pura. 

A vida segue, os tempos bons e os desafios se apresentam.

Opinião

Em entrevista, Renato Torres conta quais são os próximos projetos do Gracon

Todas as sextas-feiras, a partir de hoje, o Grupo de Pesquisa em Gravura Contemporânea (GRACON), da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de CuritibTodas as sextas-feiras, a partir de hoje, o Grupo de Pesquisa em Gravura Contemporânea (GRACON), da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de Curitib
Renato Torres
/
Acervo pessoal
Renato Torres, “Ap100621”, Linóleogravura, 50,2 x 64,8 cm, 2021.
Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
3/11/2023 15:18
Gracon

Em entrevista, Renato Torres conta os próximos projetos do Gracon

Todas as sextas-feiras, a partir de hoje (3), o Grupo de Pesquisa em Gravura Contemporânea (Gracon), da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Curitiba I, publicará uma coluna nesta plataforma. Para abrir o projeto, que contará com um texto ou imagem de um dos participantes do grupo a cada semana, realizamos uma entrevista com o seu coordenador, o professor, pesquisador e artista Renato Torres.

Gravura é um conjunto de técnicas de reprodução de imagem. De acordo com a natureza da matriz, as técnicas podem ser classificadas em xilogravura (sobre madeira), linoleogravura (sobre borracha), calcogravura (sobre metal), litogravura (sobre pedra) e serigrafia (sobre tela de seda). Tecnologias mais recentes incluem as diferentes formas de reprodução mecânica, desde a fotografia até a máquina de xerox e as impressoras domésticas, que seguem a mesma lógica de multiplicação a partir de uma matriz, seja ela física ou digital. Atualmente, todas estas técnicas – sejam as mais tradicionais dentro do campo da arte, sejam as mais comerciais ou industriais – têm sido usadas por artistas.  

Em Curitiba, particularmente, a gravura tem uma história bem consolidada, graças à atividade de ateliês públicos, como o Solar do Barão e o antigo Centro de Criatividade, bem como de cursos extensionistas oferecidos pelas universidades públicas. Além disso, a cidade foi sede de mostras especializadas em gravura desde o fim dos anos 1970 até o início dos 2000. Durante a entrevista, Renato Torres fala sobre o passado e o presente dessa cena local, sobre o seu próprio trabalho em gravura, vinculado a ela, e também sobre sua atuação como professor e pesquisador, a partir da qual nasceu o GRACON.

Luciana: Fale um pouco sobre a gravura na sua trajetória profissional.

Renato: Eu concluí a graduação em Gravura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em 2000. No ano seguinte, comecei a frequentar a oficina permanente de gravura na UFPR, sob coordenação da Dulce Osinski e do Ricardo Carneiro. Neste ano, trabalhei em uma única matriz de gravura em metal, explorando as técnicas de água-tinta e água-forte. Não se tratava de experimentar a técnica, mas de se concentrar para encontrar uma linguagem própria. Em 2002, tive a oportunidade de lecionar gravura para os Cursos de Bacharelado e Licenciatura da Universidade Tuiuti do Paraná. Diante dessa oportunidade, passei a conciliar a docência na Educação Superior com a produção artística.

A gravura foi a técnica principal utilizada em minhas produções. Normalmente, procuro escolher a técnica de acordo com o que me proponho a investigar em cada projeto poético, e por vezes, me permito explorar outras linguagens, como o desenho, a pintura ou mesmo a fotografia [que não deixa de ser uma forma de gravura]. Mas se pensar em volume de produção tenho trabalhado bastante com o linóleo, a serigrafia, a xilogravura e a gravura em metal. A paisagem é uma temática recorrente em meus trabalhos, mas sempre em diálogo com a linguagem da gravura. Meu trabalho é lento, passo alguns anos em cada série. 

Em paralelo, na Educação Superior, sempre trabalhei com coletivos. Inicialmente frequentando o grupo de gravadores da UFPR, depois organizando grupos por onde passei, como: o Grupo Papel, na Universidade Tuiuti do Paraná, de 2006 a 2011; o Grupo Grimpa, de 2015 a 2020, na Universidade Estadual de Ponta Grossa; e agora o GRACON, na Universidade Estadual do Paraná, campus Curitiba I, desde 2021. Em muitos momentos os projetos individuais se misturavam e se contaminavam com a dedicação e com a empolgação dos participantes dos coletivos. Não consigo me ver produzindo somente de forma isolada, a troca é muito importante para o meu processo de criação.

Luciana: O que é o GRACON?

Renato: A sigla GRACON significa Gravura Contemporânea. É um grupo de pesquisa científica registrado no CNPq, com o nome “Gravura Contemporânea: reflexões e processo de criação” e certificado pela UNESPAR. Gravura Contemporânea se trata de um grupo que estuda e produz gravuras em diálogo com as questões da sociedade contemporânea. A técnica pode ser tradicional, como a xilogravura por exemplo, mas a linguagem dialoga com a arte contemporânea. 

Luciana: Quem pode participar do GRACON?

Renato: Qualquer pessoa interessada pela gravura, seja pela produção, pelo ensino, pela história ou pela pesquisa sobre artistas gravadores. 

Normalmente ex-alunos de Artes Visuais procuram o GRUPO, mas não precisa ter graduação em Artes Visuais e nem mesmo ser graduado. Basta ter interesse pelo assunto.

Oficina aberta de xilogravura realizada por ocasião da exposição A pele da terra, com gravuras de participantes do Gracon, no Museu Alfredo Andersen, Curitiba, 2023.

Luciana: Como você avalia a cena da gravura hoje, em Curitiba, em relação ao seu período de formação?

Renato: Durante meu período de formação, aconteciam as Mostras de Gravura Cidade de Curitiba e o Solar do Barão tinha um destaque nacional como complexo cultural dedicado à gravura. Foi um período muito importante para ampliar meu conhecimento sobre as artes gráficas, pois tínhamos contato com artistas consolidados, com jovens artistas e com uma discussão muito forte sobre a gravura como parte das discussões da arte contemporânea. Até hoje, quando estou em eventos fora de Curitiba, me perguntam como estão as atividades no Solar do Barão. Ouvi muitos depoimentos de artistas que participaram das Mostras de Gravura.

Quanto à gravura hoje, percebo que o poder público do Paraná não tem investido em eventos como na época das Mostras. Todavia, as feiras gráficas, em geral organizadas pela iniciativas privadas, estão acontecendo em todo país. Isso mostra uma produção emergente, de jovens artistas que têm se dedicado à gravura. Ainda não é possível verificar a qualidade desses trabalhos, ou se um ou outro artista terá destaque, mas já sinaliza um movimento crescente que está abarcando as gravuras tradicionais, os impressos em geral, as publicações de artistas e os múltiplos. Algumas feiras estão concentradas em produções artísticas e outras abertas a outras categorias. Tem novos colecionadores surgindo também, aproveitando as feiras para começar suas coleções com um custo razoável.

Luciana Você fez uma individual recentemente em Castro. Pode falar um pouco sobre a exposição?

Renato: Recentemente fiz a exposição intitulada "Apanhador de Sonhos", em Castro. A exposição teve como proposta refletir sobre o conceito de paisagem urbana através de um conjunto de obras de arte, desenvolvidas em diversas técnicas, como: xilogravura, água-forte e água-tinta, linóleo, serigrafia, nanquim e pintura. Procurei manter uma estética aproximada independente da técnica.  

Nesses trabalhos optei por criar paisagens noturnas, o que deixa a imagem um pouco mais complexa e enigmática, pois, implica no enfrentamento de certa ambiguidade simbólica. A luz que encanta se coloca ao lado da escuridão que gera medo e insegurança. Portanto, a percepção das imagens pode oscilar de um encantamento até uma repulsa.  

Somam-se a essas questões as decisões tomadas durante o processo de criação, que em diversos momentos flerta com a abstração, ou melhor, com composições menos preocupadas com uma representação fiel da realidade, mas comprometidas com a construção de uma linguagem estética própria, que simplifica as imagens e gera, em alguns momentos, formas ficcionais e espaços urbanos imaginários.

Renato Torres, “Na margem de lá”, nanquim sobre papel algodão, 50 X 65 cm (cada folha), 2017.

Luciana: Por que, na arte contemporânea, ainda faz sentido falar em uma linguagem específica, como a da gravura?

Renato: Acredito que o artista se identifica com uma ou com várias linguagens e devido a sua insistência, ele a domina e começa a criar. Também acho produtivo que o artista se entregue ao projeto poético que se propõe e procure encontrar a linguagem que mais se integre à poética de suas pesquisas visuais. Não acho interessante manter uma fidelidade à técnica, mas busco a melhor maneira de desenvolver um trabalho artístico. 

Se considerarmos a gravação como processo de pensamento, como indica Marco Buti ou mesmo Richard Sennett ao escrever O artífice (2008), perceberemos que toda artesania da gravura poderá estar em diálogo com a Arte Contemporânea.

Nesse sentido, precisamos ampliar o conceito de gravura e pensar que tanto as técnicas tradicionais de gravura quanto seus desdobramentos dialogarão com o tempo presente e, portanto, a tentativa de compreender essas mudanças e mesmo como a gravura aparece na produção contemporânea, justifica falar em uma linguagem específica.

Luciana: Quais artistas foram importantes para o desenvolvimento do seu trabalho?

Renato: É um pouco difícil elencar quais artistas foram mais importantes. Mas vamos lá. Sempre gostei dos modernos e dos contemporâneos. A obra de Goeldi sempre me chamou atenção pela maneira como ele trabalhou as cenas noturnas, os becos e os moribundos. Maria Bonomi sempre me surpreendeu, com destaque para a dimensão com que ela trabalha suas gravuras. Gil Vicente me chama atenção pela maneira contemporânea como trabalha a linguagem do desenho, sobretudo com o nanquim e o grafite. Daniel Senise, Nuno Ramos, Ernesto Neto, Vergara, Laurita Salles, Evandro Carlos Jardim, Regina Silveira, Helena Kanaan, entre outros, são artistas que sempre me fazem repensar os modos de produção em arte e me motivam a produzir. Sigmar Polke, Robert Rauschenberg, Robert Motherwell, Antoni Tapiès, Anselm Kiefer, John Baldessari e Julian Schnabel me ajudam a pensar sobre o gesto, sobre a obra/objeto, sobre a apropriação de imagem e sobre os processos de impressão em obras híbridas.

Luciana: Qual texto sobre gravura te marcou?

Renato: “Os desdobramentos da gravura contemporânea” de Ricardo Resende e “O ethos da edição” de Susan Tallman.

Luciana: Quais os próximos projetos do GRACON?

Renato: Estamos trabalhando no projeto “Gravuras em grandes formatos” e na publicação do livro “A gravura em pesquisa”, com previsão para publicação entre o final de 2023 e início de 2024.

Por Luciana Lourenço Paes.

Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Última atualização
17/11/2023 10:21

Mortes por PMs quase dobram no início de 2024, em São Paulo

Redação Cidade Capital
26/7/2024 10:02

O número de mortes causadas por policiais militares no estado de São Paulo quase dobraram em relação ao primeiro semestre de 2023. Neste ano, foram registrados 296 óbitos, contra 154 no mesmo período do ano passado.

As operações policiais na Baixada Santista, como a Operação Escudo e a Operação Verão, são apontadas como fatores para o aumento da violência policial.

Decisões diárias e reflexões sobre o caos interno

Carolina Schmitz da Silva
26/7/2024 9:27

Nesses últimos dias, meu diálogo interno teve entusiasmadas e atrapalhadas conversas, diante de momentos de puro prazer e outros de tormenta pura. 

A vida segue, os tempos bons e os desafios se apresentam.