Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

A difícil arte de se fazer entender nos meios de comunicação rápida

Confira como a comunicação instantânea molda relações interpessoais e revela desafios para se fazer entender na era digital.Confira como a comunicação instantânea molda relações interpessoais e revela desafios para se fazer entender na era digital.
Arte Cidade Capital
/
Adobe Firefly
Áurea Moneo

<span class="abre-texto">Faz algum tempo que incorporamos o hábito</span> de nos comunicarmos rapidamente via WhatsApp, em substituição ao não tão velho, mas já conhecido e-mail. Tanto que alguns jovens sequer consideram a possibilidade de usar este recurso, exceto quando estritamente necessário.

Se é certo que essa forma atual e rápida de comunicação, mais informal, traz uma série de vantagens pela rapidez e fluidez, também pode complicar um pouco as relações interpessoais. Isso ocorre tanto por seu aspecto um tanto invasivo, chegando a qualquer momento e a um palmo da mão, em horários por vezes inadequados, quanto, justamente, pelo excesso de informalidade, não sem consequências. É algo sobre o qual gostaria de discorrer um pouco mais neste artigo de hoje.

Parece que estamos, cada vez mais, com nossa espontaneidade solta, inclusive nas relações profissionais, imbuídos de uma genuína liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, concisos nos textos. Estamos expostos ao risco de causar reações imprevisíveis por conta de interpretações cuja intenção nem passou pela cabeça daquele que os redigiu. Não se descarta a possibilidade da intencionalidade, via chiste, quando, através de brincadeiras com traços maldosos, destilamos verdades um pouco indigestas, mas camufladas, disfarçadas com roupagens socialmente aceitas. Porém, não é sobre isto que gostaria de escrever hoje.

Sabemos que a forma como nos apropriamos do discurso tem muito a ver com nossos próprios conteúdos. Freud incorporou o conceito de imago, proposto por Jung, acerca dos clichês mentais criados por cada individualidade, com base em seus conteúdos psíquicos. Eles reverberam principalmente sobre aquilo que se encontra recalcado, mal resolvido, e que tende a aflorar em decorrência de uma identificação inconsciente, portanto transferencial, reacendendo velhas feridas, sem que o agente do discurso consiga se dar conta do efeito produzido.

Se existe dificuldade em entender o que o outro nos diz através da fala, imaginem como isso se amplia quando este interlocutor está distante e se comunica apenas via texto, sem nenhuma modulação acústica, visual ou gestual. Os riscos de incompreensão se avolumam, o que tem sido um problema recorrente trazido por analisandos no consultório: ampliam-se as possibilidades de uma interpretação indigesta daquilo que se pretende comunicar, gerando uma série de desgastes que pouco ou nada têm a ver com o que foi efetivamente redigido.

Claro que o exercício da compreensão, quando somos nós os afetados, está em nossas mãos. Ou seja, temos a escolha de refletir sobre comunicados recebidos e, quando uma sensação de desconforto começar a brotar, procurar assimilar sua essência. Isso para identificar o que o outro disse e separar daquilo que, de forma indireta, achamos que quis nos comunicar, para entendermos o que de fato é nosso e o que é do outro.

Mas sobre como o outro poderá reagir frente a uma comunicação nossa, pouco podemos fazer, a não ser tentarmos nos debruçar nas entrelinhas do texto antes de finalizá-lo. Assim, reduzimos as possibilidades de dupla interpretação, cuidando para não sermos exageradamente prolixos ou repetitivos, de um lado, algo um tanto cansativo, ou exageradamente concisos, de outro, correndo riscos evitáveis por pura pressa ou impaciência. E, além disso, contar com um pouco de sorte para nos fazermos compreender! Et voilá...

Última atualização
16/2/2024 14:47
Áurea Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); pós-graduada em Psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em Psicanálise, pelo Instituto Superior de Psicanálise de Brasília. Outras formações acadêmicas: pós-graduada em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); pós-graduada em Administração, pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo; graduada em Arquitetura, pelo Mackenzie. Responsável pela gestão organizacional e pedagógica do Centro de Formação em Psicanálise Clínica – Illumen, com sede em São Paulo, desde 2010. Leciona Psicanálise, com notória especialidade, responsável pela preparação psicanalítica de novos alunos e professores do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2001.

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Opinião

A difícil arte de se fazer entender nos meios de comunicação rápida

Confira como a comunicação instantânea molda relações interpessoais e revela desafios para se fazer entender na era digital.Confira como a comunicação instantânea molda relações interpessoais e revela desafios para se fazer entender na era digital.
Arte Cidade Capital
/
Adobe Firefly
Áurea Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); pós-graduada em Psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em Psicanálise, pelo Instituto Superior de Psicanálise de Brasília. Outras formações acadêmicas: pós-graduada em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); pós-graduada em Administração, pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo; graduada em Arquitetura, pelo Mackenzie. Responsável pela gestão organizacional e pedagógica do Centro de Formação em Psicanálise Clínica – Illumen, com sede em São Paulo, desde 2010. Leciona Psicanálise, com notória especialidade, responsável pela preparação psicanalítica de novos alunos e professores do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2001.
1/2/2024 9:39
Áurea Moneo

A difícil arte de se fazer entender nos meios de comunicação rápida

<span class="abre-texto">Faz algum tempo que incorporamos o hábito</span> de nos comunicarmos rapidamente via WhatsApp, em substituição ao não tão velho, mas já conhecido e-mail. Tanto que alguns jovens sequer consideram a possibilidade de usar este recurso, exceto quando estritamente necessário.

Se é certo que essa forma atual e rápida de comunicação, mais informal, traz uma série de vantagens pela rapidez e fluidez, também pode complicar um pouco as relações interpessoais. Isso ocorre tanto por seu aspecto um tanto invasivo, chegando a qualquer momento e a um palmo da mão, em horários por vezes inadequados, quanto, justamente, pelo excesso de informalidade, não sem consequências. É algo sobre o qual gostaria de discorrer um pouco mais neste artigo de hoje.

Parece que estamos, cada vez mais, com nossa espontaneidade solta, inclusive nas relações profissionais, imbuídos de uma genuína liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, concisos nos textos. Estamos expostos ao risco de causar reações imprevisíveis por conta de interpretações cuja intenção nem passou pela cabeça daquele que os redigiu. Não se descarta a possibilidade da intencionalidade, via chiste, quando, através de brincadeiras com traços maldosos, destilamos verdades um pouco indigestas, mas camufladas, disfarçadas com roupagens socialmente aceitas. Porém, não é sobre isto que gostaria de escrever hoje.

Sabemos que a forma como nos apropriamos do discurso tem muito a ver com nossos próprios conteúdos. Freud incorporou o conceito de imago, proposto por Jung, acerca dos clichês mentais criados por cada individualidade, com base em seus conteúdos psíquicos. Eles reverberam principalmente sobre aquilo que se encontra recalcado, mal resolvido, e que tende a aflorar em decorrência de uma identificação inconsciente, portanto transferencial, reacendendo velhas feridas, sem que o agente do discurso consiga se dar conta do efeito produzido.

Se existe dificuldade em entender o que o outro nos diz através da fala, imaginem como isso se amplia quando este interlocutor está distante e se comunica apenas via texto, sem nenhuma modulação acústica, visual ou gestual. Os riscos de incompreensão se avolumam, o que tem sido um problema recorrente trazido por analisandos no consultório: ampliam-se as possibilidades de uma interpretação indigesta daquilo que se pretende comunicar, gerando uma série de desgastes que pouco ou nada têm a ver com o que foi efetivamente redigido.

Claro que o exercício da compreensão, quando somos nós os afetados, está em nossas mãos. Ou seja, temos a escolha de refletir sobre comunicados recebidos e, quando uma sensação de desconforto começar a brotar, procurar assimilar sua essência. Isso para identificar o que o outro disse e separar daquilo que, de forma indireta, achamos que quis nos comunicar, para entendermos o que de fato é nosso e o que é do outro.

Mas sobre como o outro poderá reagir frente a uma comunicação nossa, pouco podemos fazer, a não ser tentarmos nos debruçar nas entrelinhas do texto antes de finalizá-lo. Assim, reduzimos as possibilidades de dupla interpretação, cuidando para não sermos exageradamente prolixos ou repetitivos, de um lado, algo um tanto cansativo, ou exageradamente concisos, de outro, correndo riscos evitáveis por pura pressa ou impaciência. E, além disso, contar com um pouco de sorte para nos fazermos compreender! Et voilá...

Áurea Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); pós-graduada em Psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em Psicanálise, pelo Instituto Superior de Psicanálise de Brasília. Outras formações acadêmicas: pós-graduada em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); pós-graduada em Administração, pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo; graduada em Arquitetura, pelo Mackenzie. Responsável pela gestão organizacional e pedagógica do Centro de Formação em Psicanálise Clínica – Illumen, com sede em São Paulo, desde 2010. Leciona Psicanálise, com notória especialidade, responsável pela preparação psicanalítica de novos alunos e professores do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2001.
Última atualização
16/2/2024 14:47

Compreender o passado ajuda a construir um presente consciente

Eu e minhas circunstâncias à busca de propósito

Maku de Almeida
19/5/2024 16:26

Uma sequência de decisões me trouxe até aqui. Nem todas foram boas ou sensatas. Algumas foram realmente muito ruins. Gosto muito deste "aqui" e fico tentada a pensar: eu chegaria até aqui por outro caminho? Há coisas que ainda quero iluminar. Não me falta coragem. Mas há grandes e sensacionais conquistas. Portanto, gratidão ao aqui. Pois o lá já virou pó.

A respeito disso, um filósofo espanhol que eu aprecio sem moderação, José Ortega y Gasset, em seu livro Meditaciones del Quijote, diz: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela, não salvo a mim".

Preparar panquecas e viver é uma receita de amor e paciência

Jane Hir
19/5/2024 16:08

Algumas comidas são marcadas pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.

Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.

Cidade Capital é um projeto de jornalismo.

47.078.846/0001-08

secretaria@cidade.capital